A transparência e a discussão sobre a credibilidade

29/05/2009 - 6h49

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - O maior desafio para umveículo de comunicação é conquistar e manter a credibilidade dopúblico. São inúmeros fatores que a determinam. Um deles é aqualidade da informação jornalística da qual falamos em nossacoluna Erros e qualidade da informação jornalística,publicada dia 6 de março, na qual demos uma rápida pinceladasobre as diversas tentativas de se estabelecer sistemas eficientespara aferi-la.Outro fator queconsideramos decisivo é a transparência narelação com os leitores. AOuvidoria é um dos instrumentos criados exatamente para isso. AAgência Brasil, além de ser pioneira nesse tipo deiniciativa, é a única agência de notícias que mantém essecanal de diálogo aberto com seu público desde março de 2007.Desde então, foi-nosconferida a responsabilidade de administrar esse espaço deinterlocução que é a Coluna do Ouvidor. Para tanto nos foi dadatotal autonomia editorial, autonomia esta, mantida pela novaadministração, mesmo com as profundas mudanças jurídicasocasionadas com a criaçãoda EBC. Desde seu início, oslegisladores entenderam por bem dotar a empresa pública de canaisde comunicação com seus públicos (ouvintes, leitores etelespectadores) para que, por meio desses canais, a sociedadeavaliasse permanentemente a qualidade do trabalho realizado pelos veículos e pudesse interferir diretamente em sua gestão técnica eeditorial.Na coisa pública, nosentido de instituição que pertence ao povo, a transparência écondição fundamental e obrigatória, seja pela lei que disciplina oserviço público, seja pelo marco civilizatório do Estado de Direito, seja pelas regras da convivência democrática. É paraatender a essas características do Estado moderno que foramcriadas, pelo atual governo, as ouvidorias públicas em quase atotalidade dos órgãos governamentais federais, sejam eles daadministração direta ou indireta, fundações, autarquias eempresas da qual o governo federal é acionista majoritário.Com essa compreensão,fazemos nosso trabalho. Entendemos que estamos contribuindo com aconstrução dessa nova empresa pública de comunicação que englobaa construção da primeira agência pública de notícias e daprimeira ouvidoria pública de um veículo de comunicação.Não queremos com essepioneirismo justificar possíveis erros de quem quer que seja mas tãosomente salientar a dimensão histórica da missão a nós conferidae o desafio permanente que enfrentamos ao trilhar um caminho inéditoem todos os sentidos.Nas ultimas semanasvinhamos enfrentando alguns problemas no funcionamento desse canal decomunicação com o público leitor da Agência Brasil devidoao fato das respostas às demandas demorarem muito ou, então, nãoserem respondidas satisfatoriamente.Relatamos esse fato emnossa última coluna A credibilidade da agência publica denotícias, divulgada primeiro internamente, paraprovocar o debate, e depois publicamente. Com seu conteúdo chamamosa atenção para a importância de que a comunicação entre leitor ea Agência e vice- versa, flua eficazmente. Houve um debateinterno sobre o assunto visando a melhorar o fluxo e o tempo dasrespostas aos leitores. Nesse sentido acreditamos que atingimos nossoobjetivo, conforme esclarecemos na ultima Coluna.Mas o debate fugiu doslimites da EBC quando nossa coluna foi divulgada para outrosveículos de comunicação da pior forma possível. Os responsáveispelo “vazamento da informação” associaram à não publicaçãouma eventual censura interna ao Ouvidor, possivelmente numa tentativade transformar o fato em notícia, já que nunca houve tal censurapor parte da direção da empresa.A partir daí recebemosmensagens de diversos leitores perguntando sobre a “censura” etivemos muito trabalho em esclarece-los sobre o que verdadeiramenteaconteceu. Para dirimir quaisquer dúvidas resolvemos publicar aquelaColuna na ultima sexta-feira. O curioso é que nenhumoutro veículo “interessado” no que se passava na EBC sepreocupou em discutir o conteúdo da Coluna mas tão somente o fatode haver ou não censura ao Ouvidor. Já que não o fizeram, voltamoshoje ao assunto, estimulados não só pelo tipo de repercussão doepisódio na mídia como também por mensagens como a do leitorDouglas Puodzius questionando: “Lendo seu artigo no qual vocêcoloca em xeque a credibilidade da agência pública de notícias porcausa de 44 reclamações não respondidas, gostaria de saber: qual operíodo de tempo utilizado para coletar estas informações? Quantasreclamações foram recebidas neste período e quantas foramsolucionadas? “Outro leitor, MarceloOliveira, perguntou: “A Folha Online apurou que a reunião quedecidiu pela substituição do texto gravado no sistema pelo que foiao ar teve a participação da diretora-presidente da empresapública, Tereza Cruvinel, e do ouvidor-geral da EBC,Laurindo Leal Filho. Que vergonha. Atequando vocês vão tratar as coisas publicas como privadas ...? Porque vocês se escondem atrás do que é publico pra fazerem isso?”Antes de apresentarmosos números a que os leitores têm direito, gostaríamos de salientarque é função desta Ouvidoria zelar tanto pela qualidade dainformação quanto pela qualidade da relação que a ABrmantém com os leitores. Ambas, qualidade da informação e darelação, são complementares quando se trata de credibilidade. Damesma forma, a credibilidade da Agência Brasil e de seuserviço de Ouvidoria também se complementam à medida que osleitores o reconhecem e o legitimam como interlocutor naquelarelação. Como? Depositando na Ouvidoria suas críticas, sugestõese elogios ao trabalho informativo da ABr e sabendo que, pormeio deste canal, sua voz chegará à redação, promoverá o debatee retornará tanto na forma de respostas objetivas, quando for ocaso, mas, principalmente, quando necessário, na forma de mudançasde procedimentos e de atitudes diante do jornalismo praticado.É com esse tipo deexpectativa dos leitores que trabalhamos o tempo todo e daí decorrea necessidade de estarmos permanentemente avaliando esses dois tiposde qualidade. Ao leitor MarceloOliveira gostaríamos de deixar claro que a Folha Online não“apurou”, simplesmente inventou, porque jamais ocorreu talreunião. Nenhuma das pessoas citadas foi procurada pelo sitenoticioso que não se preocupou em saber a verdade sobre os fatosantes de noticiá-los. Uma prova disso é que, uma vez contestadapela direção da EBC, a Folha publicou umacorreção em que reconhece que não houve tal reunião. Emsegundo lugar perguntamos ao leitor onde ele encontra uma agência denotícias disposta a discutir sua credibilidade publicamente comoestamos fazendo? Por que nenhuma outra agência de notícias mantemum serviço de ouvidoria? Que tipo de relação os leitores mantêmcom as demais agências de notícias além de se limitarem ao papelde consumir o que informam?Na Agência Brasil,como nos demais veículos de comunicação da EBC, sempre opúblico poderá se manifestar participando ativamente de suaconstrução e sabendo que aqui ele é ao mesmo tempo consumidor eprotagonista, não só da informação como também da forma de comoela é produzida. Essa é uma construção coletiva, patrimônio docidadão brasileiro conquistado a duras penas. De nossa parte oleitor pode ter certeza de que faremos o possível e o impossívelpara preservarmos esse patrimônio de maneira íntegra e digna. Damesma forma que jamais aceitaríamos uma atitude de censura por parteda direção da Empresa, também sabemos que jamais houve ou haverátal intenção por parte dela - além de ser essa uma relaçãoinstitucional, devidamente normatizada, cuja autonomia está previstaem lei – os cargos de direção são ocupados por pessoasresponsáveis que têm umareputação a zelar. Ao leitor DouglasPuodzius informamos que no total foram abertos 320 processos entrejulho de 2008 e 11 de maio de 2009 dos quais se encontram pendentes 44. Portanto, foram solucionados 276 processos. Também informamosque não se trata da quantidade, mas da qualidade da relaçãoconforme explicamos acima. Por ultimo lembramos que enquanto houverum único leitor sem resposta estaremos trabalhando para que seudireito seja respeitado. Essa é uma de nossas funções.Aos leitores que sesolidarizaram com este Ouvidor sobre uma eventual “censura”,agradecemos sinceramente.Até a próxima semana.