Falta de continuidade de estudos é problema a ser combatido

13/05/2009 - 10h39

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aprender a juntar as letras, formar palavras, ler frases eescrever o próprio nome é apenas o começo. Otrabalho da alfabetização pode estar perdido se o alunonão continuar estudando em turmas de educação de jovens e adultos (EJA). Especialistas são unânimesao afirmar que a falta de oferta de turmas de EJA é um dosprincipais motivos para que o país não consiga reduziro contingente de analfabetos.Aprofessora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Clara DiPierro, especialista no tema, avalia que o escopo das políticasde educação de adultos no país ainda émuito limitado. A oferta de educação para jovens eadultos é obrigação do Estado e responsabilidadede estados e municípios, segundo a Lei de Diretrizes e Basesda Educação (LDB).“Aspolíticas de alfabetização ainda estãomuito apegadas ao modelo de campanha e nós nãoconseguimos articular bem a alfabetização com aescolarização. A aquisição da leitura eda escrita não é um processo fácil, que seconsolide em prazos curtos de seis meses”, aponta a professora. Paraela, falta motivação de estados e municípiospara dar prioridade à EJA.Segundoo secretário de Educação Continuada,Alfabetização e Diversidade do Ministério daEducação (MEC), André Lázaro, em muitaslocalidades em que não há oferta de EJA, adultos que jásabem ler e escrever se matriculam em turmas do programa BrasilAlfabetizado para continuar estudando. Para Lázaro, o fenômenoexplica em parte o fato de o esforço empregado pelo programanão se refletir em uma redução real das taxas deanalfabetismo.“Ocidadão procura uma turma do programa para não perder oque ele aprendeu. Ou seja, ele responde no censo que éalfabetizado, mas vai para uma turma de alfabetização.Não é o foco do programa, mas essa é uma portaque você não pode fechar”, diz. Em2009, o Brasil Alfabetizado tem 1,5 milhão de alunos cadastrados, em cursos que duram até oito meses. Entretanto, comomuitos dos que participam não são de fato analfabetos,mas pessoas com poucos anos de estudo e dificuldades para ler eescrever, não é possível calcular que ao finaldo ano o Brasil terá 1,5 milhão de analfabetos a menos.

Sevocê conseguisse colocar efetividade em 60% desse total, já seria um grande avanço.O meu desafioagora é dar efetividade ao que está combinado com estados e municípios [de garantir a conclusão e a continuidade dos estudos]”,afirma Lázaro. Omodelo de alfabetização de curto prazo, sem garantia decontinuidade pelos estados e municípios, é o principal problema das diversas campanhas demobilização para erradicar o analfabetismo que o Brasiljá implantou. Alguns exemplos são o antigo Movimento Brasileiro deAlfabetização (Mobral), nas décadas de 60 e 70,e o Alfabetização Solidária, do governo FernandoHenrique Cardoso.

Parao professor Osmar Fávero, da Universidade Federal Fluminense(UFF), o Brasil Alfabetizado incorre no mesmo erro. “As campanhasse mobilizam muito, gastam muito dinheiro, mas sem o sucesso efetivodas pessoas alfabetizadas”, avalia.“Écomo chuva de verão: você faz algumas coisas, talvez atéalfabetize um certo número de pessoas, mas anos depois vemoutra campanha que faz a mesma coisa. As pessoas saem de uma campanhae entram na outra. Você não tem a soluçãodo problema, que seria secar a fonte do analfabetismo garantindoescola de qualidade para todos”, completa o especialista.Apesquisadora Vera Masagão, da organizaçãonão governamental Ação Educativa, tambémafirma que o trabalho da alfabetização se perde sem acontinuidade. “O coração da política pararedução do analfabetismo deve estar na expansãoda rede de EJA. O Brasil Alfabetizado é um momento mobilizadorpara a pessoa se reencontrar com as dinâmicas da aprendizagem,mas a complementação da alfabetização vaise dar na escola mesmo.”A especialista MariaClara DiPierro afirma que, sem a oportunidade de continuar estudando, osanalfabetos saem dos programas de letramento ainda analfabetos. “Apessoa não consolida a aprendizagem, ou adquire habilidadesmuito reduzidas. Ela persiste na condição deanalfabeto: sabe reconhecer algumas letras, escrever algumaspalavras, mas enfim, ainda é uma situação deanalfabetismo”, alerta.