Eficácia da taxação da rentabilidade da poupança divide economistas

13/05/2009 - 16h29

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Asmudanças anunciadas hoje (13) pelo governo para a caderneta depoupança têm o objetivo de forçar as pessoas amanter as aplicações em fundos de investimento em 2010.A afirmação é do economista Reinaldo Gonçalves,do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ). O economista ressalta, no entanto, que o governolucraria mais se obrigasse os bancos a reduzir as taxas deadministração. “Aí ninguém sairia dapoupança para outras aplicações, nem ninguémsairia dos fundos para a poupança.”O governo decidiutaxar a rentabilidade das cadernetas de poupança com saldosuperior a R$ 50 mil a partir do próximo ano. A medida,contudo, só deverá entrar em vigor se a taxa básicade juros (Selic) ficar abaixo de 10,5% ao ano. Hoje, ela estáem 10,25%/ano.Reinaldo Gonçalves acredita que haverámigração de poupadores com saldo acima de R$ 50 mil devolta para os fundos. “Se os bancos reduzissem suas absurdas taxasde administração, ninguém sairia dos fundos eiria para a poupança. O problema é aquele negóciode jogar o bebê fora junto com a água suja. Éincompetência do governo”, disse o economista, em entrevistaà Agência Brasil.Segundo Gonçalves,o governo não tem coragem de "peitar" os bancos. "Eaí fica fazendo esses malabarismos aritméticos, que sócomplicam”. A mobilidade de aplicadores dos fundos para a cadernetaresulta do “cartel” dos bancos, afirmou.O supervisortécnico do escritório regional do DepartamentoIntersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos(Dieese) no Rio de Janeiro, Paulo Jager, destaca que a taxaçãodo ganho da poupança acima de R$ 50 mil exclui a maioria dospoupadores brasileiros. “Amaioria das pessoas tem uma poupança pequenininha. A famíliabrasileira é pobre. E poupa porque a poupança émuito importante, como conceito. Mas, em geral, a poupança épequena. Quem poupa em um volume desses [R$ 50 mil] éuma ínfima parcela da população”.Jagerressalta que apenas 70% da população ocupada têmrenda do trabalho até dois salários mínimos.Para ele, não se pode afirmar que haverá migraçãoda poupança para os fundos, devido à taxação,porque os dois principais ingredientes que um grande aplicadorconsidera são a rentabilidade e o risco. E a principaldiferença é que a poupança é garantidapelo governo.“O que o governo está tentando fazer éevitar grandes migrações de um lado e de outro. Nem dosfundos em direção à poupança, nem dapoupança em direção aos fundos”, enfatiza oeconomista. Além disso, destaca Jager, os recursos dacaderneta são a base do financiamento habitacional. Einteressa ao governo que a poupança tenha muitos aplicadores,para que haja recursos em volume suficiente para financiar aconstrução da casa própria, diz o economista.