Eficácia da proibição do uso de "corredor" por motociclistas divide opiniões

15/04/2009 - 20h59

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O projeto que proíbe os motociclistas de trafegarem entre automóveis, ônibus e caminhões, o chamado “corredor”, quando houver congestionamento ou semáforos fechados, aprovado no último dia 7 pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, em Brasília, está dividindo as opiniões sobre sua eficácia e utilidade. A proposta do deputado Marcelo Guimarães Filho (PMDB-BA) prevê que o motociclista respeite a distância lateral de 1,5 metro dos veículos. Para virar lei, o projeto ainda precisa de análise do Senado e da assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Segundo dados do Ministério da Saúde, quase 7 mil motociclistas morreram em acidentes de trânsito em 2006, o que representa 19,8% das mortes de transporte terrestre. Dos motociclistas que se envolvem nos acidentes, a maior incidência está na faixa etária de 20 a 39 anos. Em São Paulo há cerca de 120 mil motoboys, segundo o sindicato dos Trabalhadores Motociclistas Empregados de São Paulo. Em todo o Brasil são 2 milhões.De acordo com o presidente do sindicato, Aldemir Martins, a entidade é totalmente contrária à proibição da circulação das motocicletas entre as filas de veículos. Segundo ele, a finalidade da moto é a mobilidade no trânsito. “Não acredito que essa lei vai diminuir os acidentes, pelo contrário, vai acabar tumultuando ainda mais o trânsito nas grandes metrópoles inclusive em São Paulo.”Segundo ele, quem compra uma moto não quer ficar parado no congestionamento ou está em busca de uma alternativa ao transporte público. “Quem compra uma moto não quer ficar atrás de carro”, afirma. Para Martins, a causa dos acidentes não é a circulação das motos no "corredor" e, sim, a falta de investimento na educação de trânsito e o despreparo dos motoristas em geral.  O coordenador científico da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Henrique Naoki, afirmou que a medida vai evitar muitos acidentes, mas não pode ser a única ação, já que há ainda um contexto social e fiscalizatório que deve ser observado. “Hoje esses acidentes ocorrem nos corredores. Amanhã ocorrerão atrás dos carros. É preciso investir na educação dos motoristas brasileiros.” Na avaliação dele, os novos condutores devem receber um preparo maior antes de pegar um veículo e ir para as ruas.Segundo o mestre em Engenharia de Transporte e consultor da Abramet, Horácio Augusto Figueira, não existe espaço de segurança para que uma moto transite entre veículos. O espaço que aparentemente está sobrando entre as filas de veículos e que as pessoas chamam de corredor é conhecido, tecnicamente, como distância de segurança lateral.Isso existe porque nós não somos computadores e a avenida não tem um trilho como no metrô no qual a trajetória do veículo é perfeita e ele não sai do trilho. Quando se está dirigindo um veículo no meio de uma faixa de tráfego que está delimitada por linhas brancas tracejadas no asfalto, é preciso ter uma folga porque nós oscilamos ali dentro.”Para Figueira, a solução para o trânsito cada vez mais congestionado de São Paulo e de outras cidades do país é a melhoria e a ampliação do investimento no transporte coletivo. Segundo ele, a população e as autoridades estão perdendo tempo em querer dar soluções para o transporte individual. “O automóvel já é ruim, pior a moto se ela não andar de acordo com o que está no Código de Trânsito. A moto tem que andar como qualquer outro veículo normal, atrás dos carros, no meio da faixa.”Figueira enfatizou que o problema é nacional mas que, em São Paulo, a condução das motocicletas é feita de modo muito mais agressivo do que em outras capitais que ele visitou. “Aqui isso virou uma guerra e parece que está tudo bem. E as pessoas acham que isso é normal.” Segundo ele, os condutores de motocicletas são os maiores infratores das leis de trânsito. “Esse projeto de lei é perfeito porque pretende garantir que a motocicleta ande no meio da faixa e deixe espaço à esquerda e à direita dela”.Figueira afirmou que é contra a criação de faixas exclusivas para motocicletas porque, segundo ele, esse tipo de transporte não precisa de privilégio, preferência ou de prioridade no trânsito de uma cidade como São Paulo. “Tem que criar faixa para ônibus andar. A faixa para moto não é eficiente porque em um determinado momento ela [a moto] tem que sair da faixa para virar para qualquer que seja o lugar. A moto não funciona como o ônibus que sai de um ponto e vai direito ao outro pelo corredor. Elas saem a todo momento de toda as ruas.”Evandro José Araújo, 30 anos, sofreu um acidente de motocicleta aos 26 anos. Desde então, precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Ele contou que estava em baixa velocidade e não cometeu imprudência, mas foi fechado por uma van e ao desviar acabou batendo de frente com um caminhão. Para ele, que usava a moto para se locomover de casa para o trabalho, a lei pode contribuir para evitar os acidentes, desde que todos os motoristas se respeitem. Ele concorda que há muitos motoristas despreparados e se classifica como uma vítima desses condutores. “As pessoas precisam ter  mais consciência do que é sentar em frente a um volante ou estar em cima de uma moto. Não adianta eles aprovarem a lei e as pessoas não respeitarem essa lei.”Araújo acredita que a proibição pode ser prejudicial para aqueles que trabalham com a motocicleta porque eles já estão acostumados a circular com a moto pela cidade. “O problema está na conscientização e na capacitação das pessoas. Se houver isso acho que é viável deixar como está.”