Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A transformação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Solos (Embrapa Solos) em liderança internacional nas áreas de conhecimento e de tecnologia de solos tropicais é uma das metas da pesquisadora Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, que assume amanhã (27) a chefia geral do órgão, sediado no Rio. A cerimônia deve ter a presença do presidente da Embrapa, Silvio Crestana, e do secretário de Agricultura do estado, Christino Áureo da Silva.
Maranhense, Maria de Lourdes coordena a realização do Mapeamento Digital de Propriedades de Solos na América do Sul e no Caribe, em parceria com o International Center of Tropical Agriculture (Ciat). O projeto está sendo desenvolvido por um consórcio criado em fevereiro deste ano, em Nova Iorque, do qual fazem parte instituições de pesquisa e universidades de todo o mundo, com o objetivo de identificar as propriedades do solo no planeta. A expectativa é de que, nos próximos cinco anos, pelo menos 80% dos solos dos cinco continentes estejam mapeados.
A pesquisadora informou que o financiamento obtido até agora da Fundação Bill e Melinda Gates, no valor de US$ 18 milhões, será aplicado na organização do consórcio e na realização da parte do mapa referente à África. O consórcio busca outras fontes de financiamento com fundos nacionais e internacionais para garantir a continuidade do projeto.
Maria de Lourdes informou ainda que a empresa vem desenvolvendo outros projetos, como o Banco de Dados de Solos. “Esse é um passo importantíssimo”. O banco é alimentado em conjunto pela Embrapa Solos e pela Embrapa Informática Agropecuária. “A idéia é ampliar isso numa espécie de consórcio e envolver outras instituições além dos centros da Embrapa, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e universidades”.
Segundo a pesquisadora, os países industrializados da União Européia, dos Estados Unidos e da Austrália já têm bancos organizados por meio de cooperativas de dados, que poderão ser usados por todos. “Tem que ser uma via de duas mãos”. Os dados serão disponibilizados para a sociedade e auxiliarão na tomada de decisões sobre a existência de aptidões para determinadas culturas ou áreas de conservação, por exemplo.
Esses não são, contudo, os principais projetos da Embrapa Solos. “A carteira de projetos é riquíssima”, disse Maria de Lourdes. O órgão elabora ainda os perfis de referências do Brasil e desenvolve tecnologias para produção de fertilizantes orgânicos alternativos. Mudanças climáticas e zoneamento são outras áreas de atuação. A proposta de trabalho da pesquisadora é organizar as informações existentes “para servir à sociedade”.
Maria de Lourdes é a primeira mulher a chefiar a Embrapa Solos, considerado um reduto masculino. Ela foi também a única mulher a passar no concurso de pedologia (estudo do solo). “Não me intimida. Eu acho até que existe uma contribuição diferenciada, ou seja, há aquela igualdade, mas com as particularidades da mulher”.