Atingidos por barragens dizem que Rio Madeira está irreconhecível

11/03/2009 - 8h47

Luana Lourenço
Enviada Especial
Porto Velho (RO) - Mal começaram as obras das usinas hidrelétricas de Santo Antônio eJirau e o Rio Madeira “já está irreconhecível”, de acordo com ocoordenador estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB),José Josivaldo de Oliveira. Desde o anúncio da construção das usinas, omovimento vem denunciando o que considera a “privatização” do rio.“OMadeira está irreconhecível. Para quem conheceu o rio antes, chegar nocanteiro de obras da Usina de Santo Antônio hoje é assustador, é umadestruição sem precedentes”, afirmou Oliveira em entrevista à AgênciaBrasil.Em assembléia realizada em janeiro,o movimento aprovou uma pauta de 30 reivindicações em relação às obrasno Madeira, entre elas a suspensão das licenças ambientais concedidaspara as usinas e o fim da “privatização” do setor energético, com aexclusão de empresas privadas dos consórcios responsáveis pelas obras. O MAB quer apresentar as demandas ao presidente Luiz Inácio Lula daSilva, que estará em Porto Velho amanhã (12) para visitar os canteirosde obras das usinas. Pelos cálculos do MAB, cerca de 100famílias já foram retiradas das margens do rio para dar lugar às obrasiniciais. Na avaliação de Oliveira, o reassentamento foi feito de formaartificial. “O deslocamento deveria priorizar laços de amizade,questões culturais, as características de cada família”, defendeu. Paraos próximos deslocamentos, o movimento quer pressionar governos eempresas por mais garantias para os ribeirinhos e comunidades vizinhasàs obras, inclusive com a implementação de uma linha de créditoespecífica – a fundo perdido – para os moradores. No total, o MABestima que 5 mil famílias serão atingidas direta e indiretamente pelasusinas, número bem maior do que a estimativa prevista pelas construtorasque pagarão as indenizações. “Os atingidos não serão somente os que terãosuas casas submersas pelo reservatório. Por exemplo, se você tem umaestrada que ligava duas comunidades e ela vai ser submersa, isso tem umimpacto que não pode ser desconsiderado”, argumentou. SegundoOliveira, as reinvidicações foram apresentadas aos dois consórcios deempresas que tocam as obras, mas a negociação não avançou. “Se nãoconseguirmos reverter essa situação, muita gente será marginalizada,vai haver muita miséria. Vamos ter que acumular forças. Vai ser na base do enfrentamento e da pressão política que vamos tentar avançar nas conquistas”.Parao professor do Departamento de Sociologia e Filosofia da UniversidadeFederal de Rondônia, Luís Novoa, a prática de negociação adotada pelasempresas no Complexo Hidrelétrico do Madeira “é mais agressiva, commais constrangimentos sociais e ambientais”. A tendência,segundo ele, se deve à maior participação do setor privado nosempreendimentos, ao contrário das décadas anteriores, quando ashidrelétricas eram construídas e controladas por empresas estatais. “Oprocesso está sendo atropelado porque querem que o Madeira seja umreferencial, um paradigma para os outros grandes projetos na Amazônia.Vai ter que servir de exemplo para mostrar aos investidores e atrair mais recursos”, afirmou.