Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Mariana (MG) - BarackObama, Xica da Silva, Itamar Franco, Chico Xavier, Batman, Homem-Aranha, Visconde de Sabugosa e a Turma da Mônica curtindo umafolia de carnaval junto com personagens marcantes de uma cidadehistórica mineira? O devaneio vira realidade nos desfiles do maisantigo bloco de carnaval de Mariana, em plena atividade hámais de 160 anos. Éo Zé Pereira da Chácara, que sai às ruas dacidade com enormes “catitões”,bonecos feitos com papel jornal, taquara (tipo de bambu) e grude. Aescolha dos representados mistura critérios como acontribuição para a história, o folclore e oimaginário popular. No desfile mirim, as crianças tambémmostram entusiasmo, como os amigos Bruno e Fabrício, de 5 e 7anos. “Gosto de ser o capeta”, disse Bruno, após umademonstração de samba no pé. “Eu sou o Homem-Aranha, porque fui eu que mandei fazer”, acrescentou o segundo. Na toca do Zé Pereira, mantida normalmentecom apoio da prefeitura e principalmente com a dedicaçãovoluntária de gente apaixonada pelo carnaval, a presidente dobloco, Maria José Batista, de 63 anos, dá continuidadea um trabalho iniciado pelos avós. Lá estão 45bonecos adultos e 40 mirins. As marchinhas, segundo ela, garantem um carnavaltranqüilo e bem-humorado. “A gente trabalha com amor, ficaaqui 24 horas, para mostrar nossa tradição”, disseMaria José. “Misturamos tudo para mexer com as pessoas.Fazemos pedaço por pedaço, e é uma alegria serartesanal”, afirmou.Mais “desorganizado”, no bom sentido, o blocoFarrapos, fundado há 38 anos com instrumentos musicaisantigos, também tem espaço cativo na carnaval deMariana. Os foliões, a maioria da periferia, se vestem comtoalhas, roupões, fraldas, calcinhas e sutiãs, semnenhuma lógica ou imposição. A animaçãoé estimulada por 500 litros de caipirinha fornecidos porempresários organizadores. No trajeto, turistas aderem àirreverência do bloco, presente também na letra damarchinha, este ano, inspirada na crise econômica e intitulada“A crise dos diabos!”. Com os versos “A crise está tãofeia, que ontem li no jornal: o diabo vendeu o rabo para brincar ocarnaval”, entoados pelo puxador Tiagão, do alto de umcaminhão de som, o bloco ganha as ruas como se fosse umarrastão. “A pessoa sai do jeito que quiser, com afantasia que quiser. Pode ser criança, adulto, serásempre bem-vindo. Fazemos sempre marchinha com sátira, pararesgatar a tradição de Mariana”, ressaltou GeorgeCésar, um dos coordenadores do bloco. “Vem pessoal que nãotem dinheiro para nada. Faço por prazer”, disse César.Com tamanha liberdade para se fantasiar, jáhouve quem exagerasse na dose. “Ontem a fralda geriátrica deum folião caiu, e a polícia grampeou o cara”, contou,aos risos, César. A paulistana Catarina Mota, de 20 anos, foi comseis amigas passar o carnaval em Mariana e Ouro Preto e diz tergostado mais do clima nos blocos da primeira. “Em Ouro Preto émais agitado, mas fica muita gente 'pegando'. Aqui também édivertido e um pouco mais tranqüilo”, comparou.