Comunidade de Cavalcante teve pouco tempo para preparar desfiles

23/02/2009 - 14h25

Gilberto Costa
Enviado Especial
Cavalcante (GO) - Diferentemente deoutros desfiles organizados pelo carnavalesco JoãosinhoTrinta, neste, a comunidade teve pouco tempo para se preparar:“Foi tudo de surpresa, pegou a gente desprevenida”, contou apresidente do bloco Morro Encantado, Maria José da Silva. OMorro Encantado é o caçula do carnaval de Cavalcante, município que fica a300 quilômetros de Brasília, no nordeste de Goiás.Na Bateria Independentede Cavalcante (BIC), outra agremiação que estreou nestecarnaval, o tempo também foi curto. O mestre da BIC, CésarCunha, revelou que teve três semanas para recrutar pessoas,formar a bateria com 18 componentes, conseguir instrumentos eapresentar a cada um dos músicos o surdo, a caixa e opandeiro, e ensaiar para tocar nos intervalos dos cinco blocos quedesfilaram na noite passada. “Na primeira vez quetocamos, não saiu samba, mas alguma coisa parecida commaracatu”, brinca César, que foi entrevistado no bar onde abateria se reunia para ensaiar. César, que é carioca,chegou à cidade recentemente.Além do“maracatu”, nos primeiros ensaios da BIC, os moradores deCavalcante ouviram outro som tipicamente pernambucano: o frevo dacharanga Sopro Quente, “importada de Brasília para animar opessoal nas horas vagas”, segundo o maestro Riva (Carlos Rivelino).Riva é um dos 18 componentes da banda que costuma animar osblocos brasilienses Galinho da Madrugada, Pacotão e Ano quevem não tem.Riva e seuscompanheiros tocaram frevo e muita marchinha de carnaval. Norepertório, as mais conhecidas eram “Mamãe eu quero”e “O teu cabelo não nega”, que, no entanto, nãoteve qualquer contestação em terra de quilombolas –Cavalcante abriga o maior quilombo do país, o Kalunga, com 6mil habitantes.A prefeitura e osmoradores de Cavalcante querem que o carnaval se torne um eventoimportante no calendário da cidade, que promove anualmente umfestival de música instrumental, já fez uma mostra decinema etnográfico e pretende receber novamente o Encontro dosPovos do Cerrado.Tanta novidade anima epreocupa Dona Iracema, de 77 anos, que acompanhando os blocos quecontornam a praça. Ela diz que nunca viu tanto movimento assimem um carnaval, mas alerta: “Junto com os bons, vem os ruins.”