Compositor homenageado defende renovação do frevo e cobra recursos para cultura

23/02/2009 - 16h23

Juliana Cézar Nunes
Enviada Especial da Rádio Nacional
Recife - Ele misturou o frevo à MPB, ao jazz e ao forró. Trouxe para ocentenário ritmo pernambucano letras que não restringiam a música aocarnaval. Aos 30 anos de carreira, o caruarense Carlos Fernando, 67anos, é um dos homenageados deste ano do carnaval de Recife, ao lado docriador do Galo da Madrugada, Enéas Freire, e do artista plásticoCícero Dias.“Sou o único homenageado vivo. Isso é uma granderesponsabilidade. Fico muito honrado. Até porque moro no Rio. Mas semprevenho passar o carnaval em Recife. Volto grávido de frevo, mas vou dara luz lá, no silêncio da reserva ecológica onde moro em Niterói”, contao compositor, que escreveu músicas como Banho de Cheiro, famosa nainterpretação de Elba Ramalho, e lançou o disco Asas da América, em1980, com frevos cantados por artistas como Chico Buarque e GilbertoGil.Na década de 60, ainda em Recife, Carlos Fernandoparticipou do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco, um dos focosda resistência ao governo militar no estado. “Hoje, politicamente, oque me incomoda é esse orçamento público pequeno para o frevo e paraqualquer manifestação cultural. O governo, a iniciativa privada, aindústria do turismo precisam se associar para mudar isso.” Namaratona de desfiles, shows e festas, Carlos Fernando se mantém firmena cidade, sempre fantasiado e bem-humorado, principalmente nosbate-papos com os músicos da nova geração. Foi assim, nos bastidores daabertura do carnaval, quando um grupo de novos artistas pernambucanos,liderados pelo cantor Ortinho, apresentaram o show Nave do Frevo, comreleituras do trabalho do “mestre” no ritmo do rock, punk e do manguebeat.“Não tive a menor intenção de revolucionar. Apenas quisfazer. É a obrigação de todo criador, cineasta, compositor, artistaplástico, ele precisa ser ousado. Talvez eu tenha sido ousado. Mas ficapor conta da crítica, eu não posso me auto-elogiar”, brinca CarlosFernando, que reclama da falta de discos com suas composições naslojas, mesmo no ano da homenagem. Segundo o compositor, uma reedição deAsas da América é esperada para este ano.Da nova geração decompositores de frevo, Carlos Fernando destaca o trabalho do maestroSpok, da Spok Frevo Orquestra e do maestro Forró, da Orquestra da Bombado Hemetério. “O Spok está levando o frevo a países como a Índia.Quando, há 50 anos, a gente pensava em frevo na Índia? O maestro Forrótambém, que é uma pessoa chaplinianamente falando interessantíssima,está levando o frevo pra ser uma coisa mais universal e brasileira.” Pararenovar o frevo, Carlos Fernando diz que é necessário criatividade, umolhar especial para o piano e uma letra próxima da juventude. “O frevoprecisa atingir outras pessoas, outras camadas, outros tempos. Não podeser refém do carnaval. Precisamos cuidar da melodia, da letra, dosarranjos, da capa dos discos. O frevo exige mistério. O frevo émulticolorido.”