Ivy Farias
Enviada Especial
Bezerros (PE) - Num mundo globalizado,em que o videogame disputa com a bola de futebol a preferênciados meninos, um garoto de 8 anos fica na dúvida todos os dias:vai para o computador ou pratica uma arte tradicional, ensinada pelopai? À margem da BR-232, na cidade de Bezerros, esse éo dilema enfrentado todos os dias pelo menino Joaquim Bacaro Borges,filho de J. Borges, considerado o maior mestre da xilogravura noNordeste. Caçula dos 18 filhos de J. Borges, que jáexpôs suas obras em mais de dez países, Bacaro acompanhaos passos do pai e de quatro irmãos desde os 3 anos de idade.A mãe de Bacaro, Nena, conta que, nessa idade, ele jámachucava os dedos esculpindo gravuras na madeira. "Assim quecurava, ele voltava a mexer de novo."Bacaro, que tem esse nome em homenagem a umartista italiano radicado em Olinda, Giuseppe Bacaro, hoje expõesuas obras na Casa de Cultura Serra Negra, onde funciona o ateliêdo pai. Ali, sua mãe já vende algumas de suas matrizese gravuras impressas no papel. Os preços variam, mas umagravura normalmente sai por R$ 20.Bacaro, que torce pelo Náutico, clube defutebol de Pernambuco, está na terceira série do ensinofundamental. De tanto assinar seu nome ao contrário na madeira– para sair do lado certo no papel – ele se acostumou a escreverassim nos cadernos. A professora sempre chama atençãoquando ele usa o jeito correto de deixar sua marca no materialerrado, nesse caso, o papel. "Eu apago e escrevo de novo",contaele. Bacaro tem uma característica pouco comumentre os meninos de Bezerros: não é lá muito fãde carnaval. Prefere os controles do computador ou a faca e a madeirapara se divertir. Diz que tem muitos amigos na escola e que nenhumconhece suas obras, nem a favorita, o caranguejo, que jáesculpiu diversas vezes. Sempre em dúvida entre o computador e axilografia, a modernidade e a tradição familiar, aúnica certeza do menino é que, quando crescer, quer serum artista como "painho".