Marco Antônio Soalheiro
Enviado Especial
Ouro Preto (MG) - "Mamãe euquero”, “Créu”, “Sou praieiro”. Num raio de nomáximo 1 quilômetro, marchinhas, axé, funke hip hop ocupam diferentes palcos em espaços paraeventos, praças, ruas e ladeiras da antiga capital de MinasGerais e patrimônio cultural da humanidade, que tem o carnavalmais badalado do estado. As cançõestradicionais associadas, de forma geral, às cidadeshistóricas, são hoje apenas uma faceta da festa quereflete a força de marketing das músicas queinvadem as rádios do país. Uma diversidade que écelebrada por muitos, mas criticada pelos que acham a cidade perdesuas raízes.“O folião que vier aqui hoje vaiencontrar 'uma salada de frutas' muito grande. Se o poder públicoquisesse, poderia investir mais nos blocos tradicionais, que estãomorrendo”, afirmou o comerciante José Moreira, de 53 anos,dono de um misto de bar e mercearia, perto da PraçaTiradentes. Ele é organizador de um bloco que cobra preçospopulares e se dedica às marchinhas. “O público jovem que vem para Ouro Pretonão quer ficar escutando marchinha de carnaval. Isso éfato. E o axé e o funk são tradiçõesno Brasil”, rebateu o estudante Leandro Felipe, de 24 anos. Durante o carnaval, cerca de 50 mil pessoas devemvisitar diariamente a cidade, cuja população fixa éde pouco mais de 70 mil habitantes. A programaçãooficial foi montada de forma a prestigiar artistas locais de todos osritmos. Para o patrimônio histórico, aprefeitura investiu aproximadamente R$ 1 milhão em apoiosculturais, infra-estrutura, medidas de segurança e estudos deimpacto. Com impostos que serão arrecadados de blocos eorganizadores de eventos, espera-se arrecadar R$ 300 mil. Segundo osecretário municipal de Cultura e Turismo, Gleiser Boroni, aopção pela diversidade é a mais coerente parapotencializar a festa. “A cidade de Ouro Preto tem um formato em quecada folião busca aquele ritmo que mais o satisfaz. Temos quelembrar que nosso carnaval é um dos mais famosos do Brasil ede Minas Gerais. E Ouro Preto é uma cidade estudantil. Temosque respeitar isso. O poder público não podearbitrariamente baixar um decreto para proibir o axé e ofunk”, argumentou Boroni. Além dos cinco palcos onde ocorrem os showsnoturnos, diversos blocos irão se apresentar nas ruas durantetodas as tardes no carnaval. O mais antigo é o ZéPereira dos Lacaios, fundado em 1867 por empregados do paláciodo governador e mantido com uma filiação praticamentehereditária. O grupo desfila com bonecos conhecidos comocatitões. Outros blocos, como o Bandalheira FolclóricaOuro-Pretana e o Balanço da Cobra, se destacam pela sátirapolítica e social. Outra peculiaridade ouro-pretana é ocarnaval promovido pelas repúblicas de estudantes daUniversidade Federal de Ouro Preto. Oscasarões formam um mundo particular, com festas temáticase bebidas alcoólicas servidas à vontade aos hóspedese visitantes durante 24 horas por dia.Os mesmos estudantes organizam blocos com grandeestrutura que se concentram durante o dia no Espaço Folia, umaárea explorada por uma empresa privada no estacionamento doCentro de Artes e Convenções da cidade. Os abadássão vendidos em média a R$ 100. O preço inclui abebida. À noite, nomesmo espaço, uma grande produtora leva à cidade showscom estrelas da axé music e do funk. Até a Quarta-Feirade Cinzas, passarão por Ouro Preto os cantores baianosAlexandre Peixe, Tomate e integrantes do grupo Vixi Mainha, alémdos funkeiros cariocas MC Bolinho e MC Colibri. “Você podecontar nos dedos as cidades que oferecem ao visitante aoportunidade de assistir a axé, ouvir marchinhas e conhecer ohip hop. A cultura é feita de diversos matizes, e isso dámais propriedade à cidade de Ouro Preto”, opinou o diretorartístico Flaviano Souza, morador da cidade.