Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O senador Eduardo Suplicy(PT-SP) apresentou hoje (19) uma carta de oito páginas,escrita a mão e com a assinatura de Cesare Battisti, na qual oescritor questiona o que motiva o governo da Itália ase empenhar pela sua extradição. Na carta, Battistitambém faz um apelo ao “lado cristão” dos italianospara que seus atos sejam perdoados.O escritor e ex-ativista domovimento Proletários Armados para o Comunismo reconhece, na carta, ter feito parte de um período da históriaitaliana “escrita a sangue, suor e lágrimas”. No entanto,destaca que hoje o mundo vive um tempo de democracia, em que“barreiras e muros” foram derrubados.Nesse sentido, Battistipergunta se “não chegou a hora de a Itália mostrarseu lado cristão” e acrescenta que “o perdão éum ato de nobreza”. Por fim, pondera que, se é consideradoum inimigo de seu país, “até os inimigos fazem tréguae se perdoam”.Intitulada “Por que eu?”, acarta de Battisti afirma ainda que não existe o mesmo empenhodo governo italiano na extradição de um compatriota quefaz parte de uma organização nazi-fascista e reside noBrasil. Sem citar o nome desse italiano, o escritor diz que eleestaria envolvido no atentado de Bolonha, onde a explosão debombas na principal estação ferroviária dacidade, em 1980, causou a morte de 82 pessoas.Cesare Battisti tambémmenciona na carta a forma diferenciada de reação dogoverno italiano a pedidos negados de extradição deativistas de esquerda na década de 70. “Por que a Itálianão agiu da mesma maneira quando Sarkozy [Nicolas Sarkozy,presidente da França] negou a extradição deMarina Petrella da França, cuja situação penalsupera de longe a minha?”, questiona.Na carta, lida em plenáriopelo senador José Nery (P-SOL-PA), a pedido de Suplicy, quetinha vôo marcado para São Paulo, o escritor criticaainda o que chama de “imprensa marrom” que, segundo ele, temfeito de tudo para interferir negativamente nas decisõesjudiciais.Battisti foi preso preventivamente no Brasil, emabril de 2007, e segue detido na Penitenciária da Papuda, noDistrito Federal, à espera da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre oprocesso de extradição, após a concessãodo refúgio pelo governo brasileiro, no dia 13 de janeiro. Dois diasdepois (15), a defesa de Battisti entrou com uma petição no STF paraque o tribunal autorizasse a saída do italiano da prisão.