Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) apresentou nesta quinta-feira (19), em Manaus, um manifesto pedindo respeito e garantia aos direitos dos povos indígenas no país. Casos polêmicos e conflituosos, envolvendo indígenas, como o da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, e as acusações – não confirmadas pela polícia – de canibalismo dos Kulina em Envira, no Amazonas, levaram os representantes da organização a pedir apoio e defesa do Ministério Público Federal diante do que consideram perseguições e violações de direitos. O manifesto foi apresentado durante reunião da Coiab com lideranças indígenas dos nove estados que compõem a Amazônia, representando 180 povos indígenas.Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador da Coiab, Jecinaldo Sarteré, informou que o documento será encaminhado às entidades de direitos humanos e deve também servir de base para futuras discussões com o governo federal previstas para esse ano. Sarteré explicou que a apresentação do manifesto também está de acordo com uma seqüência de atividades iniciadas este ano, durante o Fórum Social Mundial (FSM) no Pará, visando a promoção dos povos indígenas."Temos que levar cada vez mais informações à sociedade em geral sobre os diversos tipos de violência praticados atualmente contra os povos indígenas. Queremos legitimar essas denúncias que são provenientes das lideranças dos nove estados da Amazônia", declarou.Segundo o documento, indígenas da Amazônia estão atualmente mais vulneráveis às violações de seus direitos e sendo colocados em posição de selvagens, canibais e empecilhos ao desenvolvimento nacional.A criação de uma comissão mista, composta por representantes do governo, do Poderes Legislativo e Judiciário, e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, entre outras instâncias, é uma das principais propostas apresentadas no manifesto como alternativa para combater o que a entidade classifica como perseguição anti-indigenista.Para Isaías Munduruku, é vereador no município de Jacareacanga (PA), o manifesto traz questões que precisam ser consideradas pelos governantes brasileiros. Ele considera que é preciso melhor aplicação dos recursos públicos para garantir o bem-estar não só dos povos indígenas, mas também de toda a população brasileira."Basta respeito e aplicação correta e justa dos recursos públicos para que as coisas comecem a melhorar. Desrespeito, preconceito e discriminação com certeza também são elementos que dificultam diretamente o desenvolvimento de qualquer população", disse.Na opinião de Sabá Manchieri, morador da Terra Indígena Mamuadadi (AC), o preconceito é um dos principais problemas vivenciados pelos indígenas na atualidade."O preconceito gera antipatia e essa antipatia contribui para os conflitos. Trabalhamos para garantir a especificidade de nosso povo. Como povo, temos nossa cultura, nossa espiritualidade, nossa forma organizacional. Entendemos que a Amazônia e o Brasil são de todos nós e queremos apenas a boa convivência", finalizou.