Em protesto, trabalhadores alegam que lucro das empresas é suficiente para garantir emprego

12/02/2009 - 18h18

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Os movimentos sociais e os sindicatos que lideraram uma manifestação na tarde de hoje (12), na Avenida Paulista, em protesto contra a ameaça de redução do salário feita pela indústria, defenderam que os lucros obtidos pelas empresas no ano passado devem ser utilizados para garantir os empregos dos trabalhadores. Para eles, a diminuição dos efeitos da crise econômica mundial no Brasil vai exigir do governo uma solução política, tal como editar uma medida provisória garantindo estabilidade no emprego.“As soluções para os problemas que se apresentam com a crise não estão no campo da economia. São soluções políticas. O que estamos discutindo é que aquilo que foi acumulado em termos de ganho no período passado – e foram recordes e recordes de produção, vendas e rentabilidade – tem de ser utilizado nesse momento para segurar o emprego, o salário e o direito dos trabalhadores”, disse o coordenador nacional da Conlutas, José Maria de Almeida. Almeida criticou, principalmente, o apoio dado pelo governo federal a empresas e bancos. “O Estado, ao dar dinheiro para bancos e empresas, vai deixar de ter dinheiro para aplicar em saúde, educação, moradia e precarizar ainda mais as políticas públicas que o país deveria praticar para melhorar as condições de vida das pessoas”.O protesto de hoje, que reuniu cerca de 500 trabalhadores segundo estimativa da Polícia Militar, foi direcionado especialmente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A principal reclamação é sobre a proposta da Fiesp de reduzir o salário dos trabalhadores como tentativa de contornar os efeitos da crise econômica. Trabalhadores do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) foram à Avenida Paulista e se colocaram em frente do prédio da Fiesp vestidos como operários, com faixas nas roupas estampando o nome de diversas empresas do país. Eles também levaram dois bonecos, um deles simbolizando um trabalhador demitido da General Motors e o outro, Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Skaf foi caracterizado como a morte e o boneco que o representava tinha nas mãos uma foice onde estava estampada a palavra “desemprego”. “O fantasma do desemprego, nesse momento, se chama Paulo Skaf. Ele representa todos os patrões do mundo”, disse o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Edmir Marcolino da Silva. Silva defendeu que a solução para a crise econômica está numa luta dos trabalhadores contra os patrões. “Nós entendemos a crise de forma diferente do resto da sociedade. Para nós, essa é uma crise do capital, ou seja, uma crise de superprodução e queda na taxa de lucro. E só existe uma saída para isso: ou os trabalhadores vão pagar com seu emprego ou sua vida, ou os patrões vão pagar pela crise. Essa saída é mundial: a luta dos trabalhadores contra os patrões do mundo todo”.“Se a crise continuar, a gente fica sem o trabalhinho da gente, sem o ganha-pão”, disse Maria Auxiliadora da Silva, que trabalha com reciclagem há seis anos. Ela teme perder o emprego. Ela disse ter participado do protesto para garantir moradia e emprego para a família. “A gente quer moradia e trabalho para nossos filhos. Meus filhos precisam de trabalho. Tenho uma filha de 19 anos que está desempregada. E o que eu ganho é muito pouco”, relatou.Procurada pela Agência Brasil, a Fiesp disse que não se pronunciaria sobre o protesto.