Classe alta é a mais atingida pela crise mundial, aponta FGV

11/02/2009 - 16h18

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As classes A e B, as mais altas da pirâmide social brasileira, perderam espaçoem termos de ascensão social desde o agravamento da crisefinanceira internacional em setembro do ano passado, caindo 0,65% no períodocompreendido até dezembro. A constataçãoé da Fundação Getulio Vargas, que divulgou hoje(11), no Rio de Janeiro, estudo sobre a mobilidade social no paíscom a crise. “As pessoas com renda mais alta estão vinculadas aoscanais de impacto da crise, como o setor exportador, financeiro eimobiliário. A boa notícia é que esses setoressão menos importantes aqui do que em outros países, emtermos de emprego, de indicadores de renda”, disse o economista Marcelo Néri, que coordenou a pesquisa “Crônicas de uma Crise Anunciada: Choques Externos e a NovaClasse Média”. No mesmo períododos dois anos anteriores – 2007 e 2006 – as classes A e B subiu 3% napirâmide. O autor da pesquisa, Marcelo Néri, explicouque, se antes, de cada 100 pessoas que estavam nas classes A e B 20 caíama cada ano, hoje, essa relação chega a 25. “Éaí que os sinais da crise são mais visíveis”,constatou. Dessas 25 pessoas, quatro caíram diretamentepara a classe E. Os critérios da FGV definem as classes A e B como aquelas com renda superior a R$ 4.592 por mês. A classe C tem uma renda de R$ 1.064 a R$ 4.591. O segmento D possui um rendimento entre R$ 768 a R$ 1.064. Abaixo de R$ 768, as pessoas são enquadradas na classe E.Néri explica que é provável quesejam pessoas que perderam o emprego ou faliram por conta da crise.Néri observou que o fato de a economia brasileira ser relativamentefechada e regulada garantiu uma maior proteção dechoque financeiros externos. O levantamento da FGV aponta, noentanto, que a crise não afetou tanto a classe C, na qual omovimento de ascensão não foi interrompido. A classemédia emergente continua crescendo nas seis principaismetrópoles do país (Recife, Salvador, Belo Horizonte,Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).O estudo mostra que, em dezembro de 2008, aclasse média (C) passou a representar 53,8% dapopulação. No mesmo períodode 2007, esse percentual era de 51,8%. As classes D e E tambémcontinuaram encolhendo comparado aos anos anteriores, de acordo com aFGV. Enquanto 6,79% da classe D migrou para classes mais altas. Naclasse E, esse percentual chegou a 8%. Marcelo Nériressaltou a importância das políticas públicas detransferência de renda e injeção de demandapública em momentos como este. Ele citou como exemplo oprograma Bolsa Família que, segundo ele, atende 25% dapopulação brasileira. Na opinião doeconomista, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)é outra ferramenta importante no amortecimento da crise naeconomia do país, além de melhorar a logísticalocal. Néri alertou que, embora as políticaspúblicas sejam necessárias, elas não sãosuficientes no longo prazo. “Se a gente gastar muitos recursos demaneira errada, no futuro, quando a crise passar, estaremos com ofreio de mão puxado.” Ele defendeuinstrumentos que criem microcréditos, abonos, microsseguros einvestimento em educação para que o país e asclasses mais pobres enfrentem os efeitos futuros da crise.