Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Segundo o sociólogoportuguês Boaventura de Sousa Santos, consultor do Ministérioda Justiça para a criação do observatórioda Justiça, “não se pode levar a democracia a sériose o sistema judicial não for levado a sério, e paraisso, precisamos mais transparência no sistema”, avaliou,explicando porque a academia deve se interessar por pesquisar a Justiça.Entre os temas depossível investigação científica estáa morosidade dos processos judiciais no Brasil. Boaventura de SousaSantos confirmou o interesse pelo tema, mas ressaltou que éimportante saber como a lentidão pode criar dificuldades paraas pessoas que precisam do Judiciário.“Eu estou interessadotanto na quantidade da Justiça quanto na qualidade da Justiça”, assinalou o intelectual, ressaltando que, alémdo volume e velocidade dos processos transitados, o observatóriodeve avaliar “se as sentenças são boas, se oscidadãos sentiram-se bem, se tiveram dificuldade de acesso aotribunal”.Indagado se a morosidade da Justiça (assim como a burocraciado Estado) não seria herança ibérica, osociólogo português admitiu que “tem uma base deverdade” as análises que apontam para a origem colonial, masressaltou que foi copiada “a caricatura do sistema jurídico”e que “se tornaram muito pior”. Segundo ele, “[hoje] emPortugal ou Espanha é raríssimo corrupçãode juiz”, exemplificou.Boaventura admitiu quehá uma tensão entre o sistema jurídico e osistema político, porque “a propósito de nada, criam-sedesentendimentos” e há conservadorismo e corporativismo entreos operadores do Direito, mas ponderou que o sistema judiciáriobrasileiro não é monolítico. “Tem juízes,procuradores no Ministério Público, defensores públicose associações [como a Associação Juízespara a Democracia], que mostram a clivagem [divisão] dentro das magistraturas”,defendeu.