A construção da agência pública

05/02/2009 - 23h14

Paulo Machado
Ouvidor Adjunto da EBC
Brasília - Faz 14 meses que publicamos a última coluna (dezembro de2007) neste espaço de comunicação com o leitor da Agência Brasil. Muita coisaaconteceu nesse período. Os leitores continuaram escrevendo para a Ouvidoriaque deu encaminhamento às demandas, negociou soluções para os problemaslevantados e deu retorno para os demandantes. Só que tudo isso foi tratadointernamente, sem tornar publico o que estava sendo demandado e tampouco aspossíveis conseqüências. Sobre elas falaremos mais adiante.A Coluna do Ouvidor foi inaugurada em março de 2007 como umespaço de interlocução inédito para uma agência de notícias, espaço esseprovido pela então Radiobrás, empresa estatal de comunicação. Hoje este espaçoestá sendo reinaugurado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), empresapública que absorveu e incorporou a extinta Radiobrás. Mas, o que mudou nesseperíodo de 14 meses na Agência Brasil? Qual a diferença entre ser uma agênciade notícias  da “pública EBC” ou da“estatal Radiobrás”? Essas perguntas têm sido feitas pelos leitores que seinformam por meio da ABr. A direção da Agência e a própria equipe de jornalistas mudousubstancialmente, mas a “cara” da Agência, sua página na internet, porenquanto, continua a mesma. Mudou a pauta, agora mais abrangente, trata, porexemplo, de assuntos internacionais e policiais.  Mas há uma mudança substancial que precisamos assinalar queestá ocorrendo na qualidade das demandas que recebemos. Entre o caráter públicoda nova empresa e o estatal da antiga, mudou principalmente o tipo de cobrançae o nível de exigência do leitor. Muitos têm nos escrito fazendo reparaçõessobre informações publicadas e lembrando que tal ou qual procedimento, conteúdoou abordagem é “coisa inadmissível em uma agência pública de notícias”. A referência ao aspecto público é inédita. Parece indicarque o leitor começa a tomar consciência de que a Agência é coisa pública e,portanto, precisa ser cuidada como algo que lhe pertence.  Tudo o que se publica na Agência Brasil tem um custo para ocontribuinte que paga por toda palavra e por toda imagem. Assim se o leitorconsidera que tal ou qual assunto não tem justificativa para estar ali publicado, elereclama. Se a abordagem de um tema não contemplou todos os possíveis lados daquestão, se os diversos interesses envolvidos não estão representados ou aindase a reportagem reflete algum tipo de preconceito de cor, gênero, lugar ouclasse social, o leitor reclama.  Se háuma informação errada, ou até mesmo algum erro ortográfico ou gramatical, elereclama. Se desconfiar que estejam tentando induzi-lo a uma determinadaconclusão, ele protesta. Os elogios também têm chegado e se referem principalmente àrelativa diferenciação dos temas abordados em relação às demais agências. Outradiferença ocorre em relação aos portais de notícias da internet. Ser uma agência e não um portal significa  que ela tem sua própria apuração dainformação e não que simplesmente reproduz o que os outros publicam. Ao reclamar,sugerir ou elogiar, o leitor está contribuindo e participando da construção daempresa pública de comunicação, da qual é legítimo dono. Consideramos que estesentimento de que esta Agência lhe pertence pode representar sinais de umamudança na qualidade da relação do cidadão com o Estado, do leitor com amídia.   De nossa parte, a Ouvidoria vai continuar trabalhando paraque essa mudança influencie e repercuta no trabalho dos profissionais dejornalismo da ABr no sentido de levar a voz do leitor e suas necessidades paradentro da redação, para que essa mudança contamine as pautas e que asreportagens forneçam as informações de que o cidadão precisa para entender edecidir qual sua relação com o mundo.  O serviço de ouvidoria, ao atender às demandas dos leitores,tem também a função de identificar onde estão ocorrendo problemas no processode apuração e produção da notícia e indicar possíveis soluções, que sãoapresentadas em forma de recomendações para os gestores da Agência. A eles cabedecidir que providências vão tomar para sanar os problemas ou, pelo menos,minimiza-los.  O importante é que oserros sejam corrigidos e que se aprimore a qualidade da informação oferecida aoleitor. Essa é uma das principais conseqüências que se espera de nossotrabalho, esse é o melhor fruto das mensagens do leitor que tem na Ouvidoria ummecanismo democrático de participação na gestão da agência pública.    Até a próxima semana