Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesardos sinais de esgotamento do neoliberalismo, o discurso de que outro modelo político-econômico estaria nascendo naAmérica Latina como alternativa – como defenderam ospresidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, EvoMorales, do Paraguai, Fernando Lugo, e do Equador, Rafael Correa -durante o Fórum Social Mundial na última semana em Belém (PA), ainda está longe de se concretizar.
Naavaliação do professor do Instituto de RelaçõesInternacionais da Universidade de Brasília (UnB), VirgílioArraes, o neoliberalismo não acabou, apenas se tornoumenos atrativo para o eleitorado latino-americano. No entanto, osurgimento de alternativas concretas é um processo de longoprazo.
“Aidéia de um socialismo na América do Sul, no início doséculo 21, é ilusória porque faltam aos seuspartidários materialização ou delineio daslinhas do chamado novo socialismo. Há um desejo por mudança,real, concreto, mas faltam os elementos teóricos para que sesubstitua de modo sólido o neoliberalismo”.
Nenhumpaís da América Latina tem atualmente políticasclaramente identificadas com a “social democracia”, segundoArraes, nem mesmo a Venezuela de Hugo Chávez, maior pregadordo chamado socialismo do século 21. “De fato, a Venezuelatem investido bastante em políticas sociais, mas nãosão políticas novas, são políticas quecopiam um modelo populista vigente na América do Sul nos anos30 e 40. É uma atualização de um modelo antigo enão uma substituição rumo a algo novo”,avaliou.
ABolívia, que durante o fórum chegou a ser definida comoa “democracia mais legitimada do continente” pelo sociólogoEmir Sader, também não tem respostas definidas paraalcançar “outro mundo possível”, lema do FórumSocial Mundial. “O governo da Bolívia, como o da Venezuela,tenta aplicar algo novo, mas ainda nem conseguiu materializar o queseria”. Segundo Arraes, um novo projeto político-econômiconão pode se resumir ao aumento da presença do Estado.
“NaBolívia há um experimento diferente na medida em que éa primeira vez, em termos institucionais, que a maioria indígenatem o poder político e pode finalmente tentar concretizar umindigenismo político. Mas tem que ser de fato um projetopopular que contemple toda a população, e não sóas chamadas nações indígenas”, apontou.
Naavaliação de Arraes, governos como os de Cháveze Morales podem estar criando as bases para a formaçãode um modelo que se contraponha ao neoliberalismo, mas a consolidaçãodessas iniciativas vai depender não só de discursos doschefes de Estado, mas dos “embates democráticos” nosparlamentos, nos processos eleitorais.
Oespecialista citou outro fator que vai exigirrespostas menos retóricas e mais efetivas dos governosprogressistas do continente: o enfraquecimento do discursoantiamericano, após a eleição de Barack Obamapara a presidência dos Estados Unidos. “A idéia dedemonizar países é uma idéia que, do ponto devista do discurso, ainda pode seduzir platéias, mas que naprática não tem muito efeito. E o Obama representa umaoposição substancial ao governo Bush, suaviza a imagemdesgastada que o presidente Bush legou à sociedadenorte-americana”, ponderou.