Procurador italiano diz que é injusto Brasil conceder refúgio a Cesare Battisti

25/01/2009 - 15h47

Luana Lourenço
Enviada Especial
Belém - A concessão derefúgio ao escritor italiano Cesare Battisti pode sercomparada à falta de colaboração da Justiçabrasileira com a investigação sobre o desaparecimentode cidadãos italianos durante a Operação Condor.A avaliação é do juiz e Procurador da Repúblicaem Roma Giancarlo Capaldo, o magistrado é conhecido peladefesa de presos políticos italianos na América do Sul.“Ele foi condenado naItália com todas as garantias constitucionais. O processogarantiu 100% de legalidade, ele pode se defender. É injustoque uma pessoa seja tutelada por outro Estado para não pagarpor crimes que cometeu. Foram atrocidades contra o Estado e contrasas pessoas”, afirmou hoje (25) em entrevista à AgênciaBrasil durante o Fórum Mundial de Juízes, em Belém.O ministro da Justiça,Tarso Genro, concedeu refúgio ao italiano depois de recursosda defesa de Battisti contra decisão do Comitê Nacionalpara os Refugiados (Conare), no qual o pedido em favor do italianofoi negado por três votos a dois.Capaldo comandou umainvestigação sobre os crimes e os desaparecidos duranteOperação Condor, aliança político-militardeflagrada nos anos 70 para coordenar a repressão aosopositores do regimes ditatoriais no Brasil, Chile, Argentina,Uruguai, Bolívia e Peru.Durante o processo, omagistrado diz que não houve colaboração daJustiça Brasileira para esclarecer os casos de cidadãosítalo-argentinos presos no Brasil, que desapareceram emseguida. “Em toda a investigação foram organizaçõesde fora do Estado [brasileiro] que enviaram documentos etestemunhos”, afirmou.A Itália chegoua enviar mais de 100 pedidos de extradição a paísesdo Cone Sul, inclusive ao Brasil. Em dezembro de 2007, o SupremoTribunal Federal negou o pedido de extradição de 13brasileiros. A extradição de brasileiros nascidos nopaís para julgamento em tribunais internacionais évedada pela Constituição Federal.Apesar da crítica,Capalda não acredita que haja uma crise diplomática deproporções relevantes e espera “colaboraçãopor parte dos juízes brasileiros” para que os dois paísescheguem a um acordo sobre a extradição do escritor.