Crise atinge Brasil de forma rápida, forte e inesperada, avaliam economistas

17/01/2009 - 8h30

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O início de 2009 vem apresentando umcenário econômico difícil para o Brasil, com adivulgação dos resultados de dezembro. Os númerosindicam que a crise financeira internacional chegou ao Brasil deforma repentina e bem mais forte do que as previsões feitaspelo governo e pelo mercado. “A crise atingiu o Brasil de forma mais intensae mais rápida do que se esperava. Até que ponto issovai nos afetar, ainda não se sabe, mas todos os sinais indicamque ela é pior do que se imaginava e já começa aapresentar seus efeitos no mercado”, afirmou o coordenador da Cartade Conjuntura Econômica do Instituto de Pesquisa Econômicae Aplicada (Ipea), Marcelo Nonemberg.Alguns dados de dezembro ainda nem foramdivulgados - como o quadro de demissões, por exemplo - mas ogoverno já tem uma perspectiva pessimista e acredita que osnúmeros vão superar muito a média de demissõespara mês, que é de 300 mil.Para os especialistas, diante do novo quadro, ogoverno terá que se esforçar muito para continuarpassando um clima de confiança para a população.“O papel do governo é passar essa confiança, atépara não agravar a situação. Imagine se o pilotodo avião demonstrasse que está com medo”, disseNonemberg. No entanto, os dados indicam que o primeirosemestre de 2009 será muito ruim e que essa crise deve demorara passar, acrescentou o economista. Para ele, manter ootimismo é difícil. “As pessoas estão perdendoo emprego. As notícias ainda estão assustando aspessoas, que adiam as decisões de compra. A próprianotícia da crise contribui para agravar a crise.”Segundo Nonemberg, mesmo que o Banco Central (BC)resolva baixar bruscamente os juros para estimular o crédito,o efeito da medida só seria sentido no próximosemestre. Na próxima semana terça-feira (20), o Comitêde Política Monetária (Copom) do BC se reunirápara definir a taxa básica de juros, e tanto o mercado quantosetores do governo esperam uma redução. Atualmente, oBrasil pratica uma das maiores taxas de juros do mundo, de 13,75%. “Temos um efeito defasado. Ainda que o BancoCentral decida cortar radicalmente os juros, continuamos sofrendo ainfluência da politica adotada no ano passado, maisespecificamente, a partir de abril, que foi de elevaçãoda taxa de juros. Isso vai demorar para ter efeito”, comentou. De acordo com o economista Rogério CésarSouza, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, umtraço dessa crise que não esteve presente em recessõesanteriores é a imediata queda no emprego. “Normalmente, a produçãoindustrial cai primeiro e as empresas procuram cortar horas extras,ou cortar o terceiro turno para depois pensar em demitir. Desta vez,porém, a intensidade foi tão grande que em outubro osníveis de empregos estavam firmes e em novembro já davasinais de revés. Isso é sinal que que temos uma crisecom elementos diferentes, inesperados e, por isso, difíceis delidar.”A análise de conjuntura feita por RogérioSouza para o Iedi aponta forte retração econômicano mês de dezembro, principalmente na produçãoindustrial. “Os resultados serão anda piores que os denovembro”, diz o estudo, que destaca a redução daatividade industrial no estado de São Paulo.“Os índices apontam uma queda na produçãono principal parque industrial do país [São Paulo],que pode chegar a 13,5% em dezembro em relação anovembro. No estado de São Paulo, em dezembro de 2008, aretração seria de 12,6%”, destacou. A análise também destaca dados daAssociação Nacional dos Fabricantes de VeículosAutomotores (Anfavea), mostrando que a produção dedezembro, de 102 mil unidades, é a menor desde janeiro de2000. A queda na produção de veículos foi de 38%em relação a novembro, mês que já haviaregistrado queda de 29,2% em relação a outubro. Na comparação com dezembro de 2007,a produção de veículos diminuiu mais 53,8%. “Odesempenho no acumulado do ano ainda pode ser considerado bom, 8,2%,embora muito abaixo dos 20,1% acumulados até setembro de 2008.Esse desempenho se deve aos nove primeiros meses do ano, quando osetor registrou um crescimento forte de produção.”