Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um estranho ruído cósmico está intrigando a comunidade científica mundial. Até o momento, os pesquisadores não têm explicações para a origem do misterioso sinal cósmico registrado por um balão estratosférico operado pela Nasa, a agência espacial norte-americana.Segundo o diretor de Satélites e Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira (AEB), Thyrso Villela, a descoberta surpreendeu a todos, ao demonstrar que a ciência ainda “não compreende a natureza da maneira como acreditávamos entender”, necessitando “aperfeiçoar” os modelos empregados para explicar fenômenos naturais.“Esse sinal não havia sido previsto pelos modelos que temos hoje para explicar a origem e a evolução do Universo. É, literalmente, um mistério, algo não explicável pelos modelos físicos de que dispomos hoje”, afirmou Villela.O anúncio sobre a detecção do sinal foi feito na última quarta-feira (7), durante reunião da Sociedade Astronômica Americana, realizada na Califórnia (EUA). Segundo Alan Kogut e Michael Seiffert, pesquisadores que participam do projeto Arcade (do inglês, Radiômetro Absoluto para Cosmologia, Astrofísica e Emissão Difusa), o desconhecido sinal em frequências de rádio foi detectado enquanto o balão estratosférico da NASA buscava fontes de energia emitidas pelas primeiras estrelas a se formarem no Universo, há dezenas de bilhões de anos.“Esperávamos medir um sinal de rádio que tivesse sido produzido pelas primeiras estruturas a se formar no universo. Ao invés disso, medimos um sinal seis vezes mais intenso e não havia forma de explicar isso”, disse Villela, que participa do projeto Arcade junto com o também brasileiro Alexandre Wuensche, do grupo de Cosmologia Observacional da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).Em nota, a AEB procurou esclarecer a dimensão da descoberta: a imensa maioria dos objetos cósmicos emite ondas de rádio, de forma que o Universo é permeado por um sinal residual do Big Bang (teoria segundo a qual o Universo teria se originado a partir da explosão de um único átomo primordial).Esse sinal residual, conhecido como Radiação Cósmica de Fundo em Micro-Ondas, pode ser verificado em frequências de rádio e micro-ondas. Segundo a AEB, no entanto, não existiria um suficiente número de galáxias no Universo capazes de explicar a intensidade do estranho sinal detectado, seis vezes mais intenso que o produzido pelas estruturas mais antigas. Dessa forma, ele não pode ser atribuído a nenhum sinal já conhecido.“O grande problema é que não existem idéias que possam explicar de forma objetiva a origem desse sinal. Supomos que as primeiras estrelas a se formar no Universo podem ter formado buracos negros e emitido esse sinal, mas ainda não fizemos as contas para verificar se algo assim explicaria a descoberta”, disse Villela. “Ao nos depararmos com esse sinal tivemos que considerar várias possibilidades de erro, recalibrar instrumentos e refazer cálculos, pensando outras hipóteses que pudessem explicar tais sinais”.Para o cientista, embora pareça não ter qualquer vínculo com o cotidiano das pessoas, a descoberta é importante. “O objetivo inicial da ciência é entender como as coisas funcionam na natureza, entender a física que rege nosso mundo. Se conseguirmos entender como essas estruturas se formaram no universo, podemos descobrir aplicações que podem revolucionar nosso dia a dia”, argumentou Villela, lembrando que o raio-laser já havia sido observado quase cem anos antes do homem dominar sua utilização. “Esse sinal pode ser uma nova pista de como a natureza funciona, do que provavelmente só poderemos tirar proveito daqui a algum tempo”.