Mercado financeiro permanecerá instável no primeiro semestre

07/01/2009 - 15h56

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo (Brasil) - Apesar dos sinais de recuperação desde o final do ano passado, o primeiro semestre de 2009 ainda será marcado pelainstabilidade no mercado financeiro. Segundo analistas entrevistados hoje (7)pela Agência Brasil, o mercado internacional vem demonstrando um otimismo desdeas festas de fim de ano com a proximidade da posse de Barack Obama nos EstadosUnidos.Entre os dias 2 e 6 de janeiro, oIbovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de SãoPaulo (Bovespa), teve valorização de 12,6%, somando 42.312 pontos. Hoje, noentanto, o indicador da Bovespa registrou uma queda de 3,53% e o dólar subiu2,7%, atingindo R$ 2,24.Um sinal positivo para o Brasil foia captação de US$ 1 bilhão realizada ontem (6) pelo governo no mercadointernacional, que passou os últimos seis meses com escassez de linhas decrédito. Hoje, o Tesouro Nacional voltou a obter US$ 25 milhões na Ásia.A economista Alessandra Ribeiro, daTendências Consultoria, diz que o repentino otimismo dos investidores estárelacionado às expectativas em torno da nova gestão do governo norte-americano.“Ele [Obama] tem surpreendido o mercado com o anúncio de investimentos”,afirma. Ainda no final de 2008, Obama solicitou um aumento de recursos ao Congressodos Estados Unidos. O novo presidente norte-americano assume no próximo dia 20.De acordo com a economista,surgiram notícias nos últimos dias sobre a possibilidade de que osinvestimentos norte-americanos ultrapassem a US$ 1 trilhão. Essa notícia trouxeum estímulo para os investidores. Na prática, significa um aumento dos gastospúblicos em infra-estrutura (rodovias, ferrovias, saneamento, etc), gerandoemprego e renda.O mercado financeiro, ressaltaAlessandra Ribeiro, se animou com a decisão de Obama de cortar impostos e, pormeio dos incentivos fiscais, colocar um fim à desconfiança do mercado,permitindo maior circulação da moeda e, conseqüentemente, do aumento na ofertade crédito. “A retomada do dinamismo daeconomia norte-americana puxa as demais economias”, diz ela, lembrando que aintenção de aumentar gastos públicos não é exclusividade dos norte-americanos,exemplo que vem sendo seguido por outros países da Europa e da Ásia.Para Alessandra Ribeiro, o Brasildeve se beneficiar com o novo quadro que começa a se desenhar porque, emsituação de risco, os investidores migram para a compra de títulos daseconomias mais desenvolvidas e, se não há mais o temor de antes, a tendência éde um retorno do capital estrangeiro."De outubro para cá, houve uma fugados investidores para os títulos norte-americanos como forma de proteção",observa o economista Luis Jurandir Simões, professor da Fundação Instituto dePesquisas Contábeis Atuariais e Financeiras (Fipecafi).O retorno dos investidores explicaem parte a valorização do real frente o dólar de 9,2%, entre 29 de dezembro eos primeiros quatro dias de 2009.Simões avalia que o potencialbrasileiro na movimentação das commodities (soja, minério de ferro,petróleo) já é um sinal das chances de avanço na economia. Segundo ele, mesmocom a crise, o mundo continuará necessitando de alimentos e outros produtosfornecidos pelo Brasil, como o aço. O que emperra a aceleração da atividadeprodutiva, pondera, “é alto peso da carga tributária”.Ele destacou que aos poucos asempresas estão voltando a obter crédito e que isso evidencia uma melhora daeconomia. No entanto, adverte que o ritmo “não vai voltar aos patamares queexistia antes da crise”. Simões também não acredita que será repetida a euforiados investidores no mercado de ações a partir de 2003 e que levou à pontuaçãomáxima do Ibovespa a 73.616, em 20 de maio do ano passado.No acumulado de 2008, o Ibovespa recuou em 41,2% com agravamento da crise financeirainiciada nos Estados Unidos e que chegou ao ápice no último trimestre do nopassado. A última vez que o mercado brasileiro de ações encerrou o ano em quedafoi em 2002 (-17%).