Morillo Carvalho*
Enviado Especial
Juazeiro do Norte (CE) - Eles enfrentam a criminalidade com espadas. Só que as armas não ferem, nem matam: do contrário, dão vida a uma comunidade pobre de Juazeiro do Norte (CE). Cenográficos, os instrumentos fazem parte das apresentações – ou brincadeiras, como preferem – do Reisado dos Irmãos Discípulos de Mestre Pedro, premiado como “Tesouro Vivo da Cultura Popular” no Encontro Mestres do Mundo, que acontece na cidade até sábado (6).O reisado é uma dança popular, tradicional nas Regiões Norte e Nordeste, e que começou durante as comemorações do Dia de Reis (6 de janeiro). Na dança, a figura do rei é reverenciada por cânticos e brincadeiras. Os “brincantes” do reisado – que não gostam de ser chamados de artistas – são 28. No entanto, em torno deles, desenvolve-se uma cooperativa de artistas populares, que trabalha com toda a comunidade de João Cabral – 270 famílias, segundo o coordenador do grupo, mestre Antônio Ferreira.Além de ensinar pessoas de todas as idades a brincar o reisado, a cooperativa desenvolve trabalhos sociais, como aulas de reforço escolar e artes plásticas. É desta forma que seguem a receita de ocupar o tempo dos jovens da região, já que “com a cabeça vazia, o caminho é a vagabundagem”, nas palavras de mestre Antônio.“Se não fosse o grupo, muitas crianças estariam perdidas. Tiramos crianças das ruas [do ócio] que hoje tem 18 anos. Quando eles tinham 13, 14, fomos lá buscá-los, explicamos o que é a cultura, como é a vida, e hoje são pais de família. Hoje eles nos agradecem muito”, conta o mestre. Ao ser diplomado ontem (2) como “Tesouro Vivo da Cultura Popular”, os discípulos do reisado cantavam, dançavam e brincavam com as espadas. A população também o aclamava – um reconhecimento ao trabalho de mais de 20 anos, iniciado pelo irmão adotivo de mestre Antônio, que dá nome ao grupo – Pedro.“Do céu, ele está abençoando e muito feliz com esse prêmio”, acredita mestre Antônio. “A gente sempre teve muita dificuldade para tudo: para manter a nossa sede, fazer as roupas, conseguir os instrumentos”, conta, feliz com a premiação, que concede por dois anos um auxílio financeiro aos mestres, de pelo menos um salário mínimo, e ao grupo, de cerca de R$ 4,2 mil.“Já não vamos mais ter aquele sufoco de estar chegando o dia de pagar o aluguel da sede e estarmos pedindo a um, a outro, para completar o valor”, comemora. Hoje, além do reisado oficial, há o mirim, o feminino – chamadas “Guerreiras”, com adolescentes de 14 a 18 anos – e uma banda cabaçal mirim (cujo instrumento é a cabaça).