Apesar do momento de auto-valorização, negros enfrentam cenário de dificuldades, aponta Ipea

20/11/2008 - 14h55

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar doaumento no número de brasileiros que se reconhecem comonegros, o cenário para a população de pretos epardos no país ainda é de dificuldade. A avaliaçãoé do pesquisador MárioTheodoro, diretor de cooperação e desenvolvimento doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e um dosautores da publicação DesigualdadesRaciais, Racismo e Políticas Públicas 120 anos apósa Abolição, lançada hoje (20) pelo instituto.“O que o estudo aponta éuma maior quantidade de pessoas que antes se declaravam comonão-negras, ou seja, nem pretas nem pardas, e que começama se declarar agora como tal. Isso acontece em funçãode um reconhecimento ou de uma valorização maior da cornegra".De acordo com o pesquisador, oaumento do auto-reconhecimento entre a populaçãobrasileira se deve, entre outras coisas, ao papel do movimento negrono país. “Foi um trabalho de resgate e de valorizaçãoda questão racial que fez com que a populaçãocomeçasse a se reconhecer como negra, um grande salto nessesúltimos anos”, diz.Ele destaca, no entanto, que as condições de vida da populaçãonegra se apresentam de forma muito mais precária do que asvivenciadas pelos brancos. Uma das estratégias para mudar esse panorama, segundo Theodoro,deve ser a implementação de políticasespecíficas que caminhem junto às políticasuniversais. “Além do combate à pobreza, vocêprecisa de políticas de valorização e de açãoafirmativa, para que essa diferença diminua de formaexpressiva”, avalia.Theodoro lembra que o Estatuto daIgualdade Racial, ainda em tramitação no CongressoNacional, abrange uma série de políticas específicase que valorizam a população negra, desde a necessidadede se aumentar o contingente de pretos e pardos nas novelas atémanter uma certa paridade em alguns setores que normalmente empregammais brancos, como shopping centers e hotéis.Na publicação os técnicos do Ipea sugerem que se adotepolíticas específicas para a questão racial paranão fazer confusão entre questão racial epobreza. "São duas coisas diferentes: a pobreza acaba comdistribuição de renda, proteção social ecrescimento enquanto a questão racial se enfrenta compolíticas de ação afirmativa, valorizativas eque, de alguma maneira, enfrentem o racismo, o preconceito e adesigualdade racial. Isso ainda está por vir. As políticas,hoje, ainda são muito pontuais e elas têm que seraprimoradas e aumentadas", argumenta Theodoro.