Ivan Richard
Enviado Especial
Anapu (PA) - Um trator, uma patrol,uma caçamba e uma pá mecânica são osequipamentos de que dispõe a prefeitura de Anapu, no sudestedo Pará, para atuar em todo o município, deaproximadamente 12 mil quilômetros quadrados. Na cidade, quecompleta 16 anos em 2009, não há hospital e aprefeitura ainda não tem uma sede.A falta de estrutura domunicípio, que se tornou nacionalmente conhecido depois doassassinato da missionária americana Dorothy Stang, em 2005,dificulta o trabalho de fiscalização da área defloresta amazônica, segundo informou o prefeito eleito,Francisco Assis (PT), conhecido como Chiquinho.Ele prometecombater a extração ilegal de madeira, mas reconhece deantemão que a prefeitura sozinha não dará contada tarefa. Apesar de a cidadeestar no raio de ação da Operação Arco deFogo, ao cair da noite é comum ver caminhões quetransportam madeira seguir para dentro da mata."Temos quecombater, veementemente, a ilegalidade e incentivar aquele que quertrabalhar conforme as leis. Por meio de projetos de manejo, hácondições de se extrair recursos da floresta semdanificar tanto o meio ambiente", disse à AgênciaBrasil.O prefeito eleitotambém cobra que o governo federal faça sua parte napreservação da floresta. "Toda essa áreafoi licitada pelo governo e vendida para alguém. Essas pessoasprecisam sobreviver e é preciso fazer com que elas façamisso com responsabilidade".Para Chiquinho, ogoverno deveria, antes de montar uma equipe de repressão, comoa Arco de Fogo, enviar técnicos agrícolas paracapacitar agricultores."Nas RegiõesSul e Sudeste pensam que nós vivemos como índios e essanão é a verdade", afirmou ao comentar as críticasde que o município não trabalha para preservar afloresta."A populaçãoprecisa comer e se desenvolver. Hoje, até um agricultor quedesmata uma pequena área para plantar e extrair suasubsistência é visto como bandido".Um exemplo da"complexa" tarefa de manter a floresta em pé, cita oprefeito, é o fato de que, apenas em 2006, mais de 1,2 milfamílias foram assentadas no município. "Cada umapode desmatar, por lei, três hectares do lote por ano. Ésó fazer o cálculo de toda essa área".Para o prefeito, oInstituto de Colonização e Reforma Agrária(Incra) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (Ibama) deveriam trabalhar no sentido deagilizar a regularização das terras na região ena autorização de projetos."Uma autorizaçãopara início de um projeto de manejo só sai apósum ano. Uma licença de operação só comdois anos", reclamou. "Embora queira trabalhar de formalegal, o Estado não oferece condições. A melhorforma de combater a ilegalidade é facilitar a legalidade",afirmou.O prefeito disse nãover problemas na criação de gado na floresta, desde queseja no percentual de 20% em que é legalmente permitido odesmatamento."O produtor podedesmatar 20% da propriedade e usar essa área de acordo com suavocação. Não conheço uma lei que proíbaa criação de gado [na Amazônia], maspreferimos incentivar o cultivo de lavouras de clico longo, como ocacau, que são uma boa fonte de renda e ainda auxiliam dapreservação da floresta".Outra preocupaçãodo futuro prefeito é com a possibilidade de construçãoda hidrelétrica de Belo Monte. Segundo ele, antes mesmo doinício da obra, pessoas têm chegado à cidade coma perspectiva de emprego durante a construção dabarragem."Chegam cerca detrês famílias por semana. Com o início das obras,a população deve saltar, facilmente, para 60 milhabitante e não temos uma rede de atendimento públicopara suprir essa expansão", disse.