Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo (Brasil) - Caso venha a ser efetivada a compra da Nossa Caixapelo Banco do Brasil, o país terá uma concentraçãode negócios bancários nas mãos de trêsgrandes gestores. O alerta foi feito hoje (19), em entrevista àAgência Brasil, pelo economista da FundaçãoInstituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras(Fipecafi), Alexandre Assaf Neto.Segundo ele, essa concentração“diminui a concorrência e isso não é bom paraos clientes em geral”. Assaf Neto lembrou que o cenário secompleta com a recente do Unibanco com o Itaú.O economista, no entanto, admite que as medidasacabam sendo inevitáveis diante da crise financeirainternacional. “No curto prazo trata-se de uma estratégiaboa porque reduz as incertezas do mercado, fortalecendo o sistemabancário”, avaliou.Ele lembrou que, em contrapartida, fusõesno setor bancário implicam em riscos de menos opçõesde escolha por conta dos clientes entre uma instituiçãoe outra em busca de melhores condições de serviços,tarifas bancárias e juros sobre empréstimos.Para ele, no médio prazo, o ideal seria umadesconcentração dos negócios por meio davalorização de instituições menores e debancos estrangeiros.Ele observou que o Banco do Brasil tem “umafunção híbrida” enquanto agente financeiro dogoverno e com importante expressividade “no fomento às microe pequenas empresas, tendo, inclusive, exercido um papel de consultorà novos investimentos neste segmento”. No entanto, com a intenção decomprar a Nossa Caixa, esclarece o economista, o Banco do Brasil podeperder essa característica inicial para ocupar espaçoscomuns aos bancos do setor privado.Na avaliação de Assaf Neto, o quemove o interesse do governo federal é a busca pela retomada daliderança que foi perdida para o Unibanco/Itaú, quepassaram a ter ativos de R$ 575 bilhões. “O governo se sentehumilhado em não ser o número um”, disse. Segundo o economista, mesmo incorporando a NossaCaixa, o BB não resgatará a liderança porque asoma de ativos ficará em torno de R$ 513 bilhões. Já o economista Roberto Luis Troster, sócioda Integral-Trust, acredita que outros bancos do setor privadopoderiam participar da negociação. Sua avaliaçãosobre a compra da Nossa Caixa pelo BB, caso se concretize, épositiva. “Trata-se de um negócio oportuno ao BB e issotrará um ganho de escala e permitirá que a instituiçãopasse a ter um retorno sobre um novo nicho de mercado”, disse. Comoexemplo, ele citou o mercado imobiliário, segmento em que aNossa Caixa é especialista.Dados da Nossa Caixa sobre o desempenho doterceiro trimestre indicam que a carteira de créditoimobiliário cresceu 15,1% nesse período, com saldo deR$ 668,6 milhões, com relação ao segundotrimestre. Sobre o terceiro trimestre de 2007, houve um aumento de59,2%. Esses índices foram superiores à médianacional, com crescimentos de 10,2% e 35,7%, respectivamente.O vice-diretor de economia da FundaçãoArmando Alves Penteado(Faap), Luiz Alberto Machado, avalia que ocaminho das incorporações no setor “é umatendência natural porque quem não crescer corre o riscode ser engolido”. Ele, porém, afirma que o “Banco do Brasilterá de passar por um choque de eficiência” casoqueira competir em termos de oferta de melhor serviço.