Mylena Fiori
Enviada Especial
Washington - O presidente LuizInácio Lula da Silva fez hoje um apelo aos líderes daAustrália, Japão e Reino Unido: os chefes de governonão podem sair de Washington de mãos abanando, pois hágrande expectativa da sociedade em relação a propostasconcretas para acabar com a crise financeira global. O relato foifeito pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que acompanhou osencontros bilaterais da manhã de hoje, véspera dacúpula convocada pelo presidente George W. Bush. Segundo Mantega, há consenso de que épreciso trabalhar de forma coordenada e rápida sobre umprograma de medidas anticíclicas. Os governos da Austráliae do Reino Unido estão dispostos a tomar medidas concretaspara evitar uma depressão mundial, garantiu o ministro. No encontro com Lula, o primeiro-ministrobritânico, Gordon Brown, defendeu a adoção de umprograma de políticas monetárias, com reduçãodas taxa de juros e aumento do crédito, de forma a fazer comque a liquidez chegue ao produtor e ao consumidor. Já oprimeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, frisou a necessidade demedidas urgentes e “ousadas”. O fundamental, na avaliação doministro Guido Mantega, é devolver confiança aomercado. “Existe uma insegurança, o consumidor nãotoma crédito e reluta em fazer as aquisições. Osbancos que têm recursos relutam em dar o crédito, porquenão sabem o que vai acontecer. Temos que eliminar essadesconfiança”, resumiu, em entrevista coletiva. Mantega e o ministro das RelaçõesExteriores, Celso Amorim, afirmaram que todos concordam, em maior oumenor grau, com a necessidade de regulação do mercadofinanceiro e acreditam na possibilidade de algum avanço nessesentido, mesmo com a resistência já explicitada pelopresidente Bush. “Poderá haver divergência quanto aotipo de regulação que se queira fazer. Agora, nocomunicado que vamos apresentar, estará dito que énecessário haver uma regulação do mercadofinanceiro”, antecipou Mantega. Segundo ele, o Brasil proporá a criaçãode grupos de trabalho, com prazos fixados para apresentaçãode propostas de como regulamentar os mercados. “A regulaçãonão é algo que se faça do dia para a noite. Issosignifica estudar como vamos regulamentar os hedge funds[fundos de risco],como vamos regulamentar derivativos. Tudo isso requer estudostécnicos aprofundados”, frisou o ministro da Fazenda.Segundo ele, apenas o mercado de credit default swaps[derivativos de crédito] conta com US$ 55 trilhõesde derivativos que precisam ser regulamentados. A expectativa é que o presidente eleito,Barack Obama, vá “mais fundo” nesses temas. Obama nãoparticipará da reunião, mas mandou uma representante –a ex-secretária de Estado de Biill Clinton, MadeleineAlbright, que integra a equipe de transição. “A idéiaé de que ele [Obama] venha com um pacote de medidasanticíclicas mais robusto para não frustrar oeleitorado que levou ao poder”, disse Mantega.Essa é também a expectativa dochanceler Celso Amorim: “Não é apenas uma opiniãonossa, mas também dos interlocutores com quem conversamos,especialmente os primeiros-ministros da Austrália e daGrã-Bretanha. A avaliação é de que aspolíticas fiscais de encorajamento do governo Obama irãomais longe.”