Estudo da FGV mostra que país terá 100% de saneamento básico só em 20 anos

04/11/2008 - 15h52

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Com o atual ritmo de investimentos do país em saneamento básico, de R$ 10 bilhões por ano, o Brasil precisará de, ao menos, 20 anos para conseguir universalizar o serviço à toda a população.A conclusão está na terceira etapa da pesquisa Impactos Sociais de Investimentos em Saneamento, divulgada hoje (4) em São Paulo, realizada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), a pedido do Instituto Trata Brasil. De acordo com o estudo, seriam necessários recursos equivalentes a cinco Programas de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal,  para que toda a população do país passasse a ser atendida. Enquanto o valor estimado para levar o serviço de saneamento a toda a população é de R$ 200 bilhões, a previsão do PAC, lançado em 2007, é de investir em saneamento cerca de R$ 40 bilhões. “A regra no Brasil foi, até agora, um saneamento andando a passos de cágado. O Brasil não estava fazendo seu dever de casa na área de saneamento. A taxa de redução do déficit de saneamento vinha andando a um quarto do ritmo de redução da pobreza, nos últimos 15 anos”, disse  o coordenador da pesquisa, professor Marcelo Néri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV.Apesar da defasagem de investimentos no setor, a pesquisa mostra que, em 2007, o crescimento das obras de saneamento básico aumentou sensivelmente e se equiparou ao ritmo de redução da pobreza. “A gente sabe que não foi renda, a gente sabe que não foi o Bolsa Família. Pode ser uma combinação de PAC anunciado, da Lei Geral de Saneamento. Houve alguma coisa no setor do saneamento diferente em 2007, foi um salto nove vezes maior que nos três anos anteriores”, ressaltou Néri. Para o presidente do Instituto Trata Brasil, Raul Pinho, a melhora em 2007 está ligada à criação do Ministério das Cidades, que centralizou as ações de saneamento no país. “São investimentos que estão sendo feitos desde 2003, que foram acentuados com o PAC em 2007. A criação do Ministério das Cidades, quando a agenda do saneamento foi resgatada, se reflete agora”, analisou.Segundo o toxicologista do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP), Antony Wong, o cuidado com o saneamento básico é imprescindível. A falta de saneamento está ligada à principal causa de morte no mundo. “Dados da OMS [Organização Mundial da Saúde] mostram que doenças respiratórias são classificadas em primeiro lugar como causas de morte. E não é por causa de poluição. Pode ser causada por falta de higiene. As pessoas [sem saneamento] respiram um ar mais contaminado, com bactérias ou vírus. Há diminuição da capacidade imunológica, o que faz com que ele não consiga combater os agentes infecciosos”, explicou.