Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - As eleições nos Estados Unidos obedecem a regras muitopróprias, com características diferentes em cada estado, o que torna muitocomplexo e surpreendente o processo eleitoral. Essas regras foramdefinidas pela Constituição do país, datada de 1787 e que dá ampla liberdade aosestados de definir como irá transcorrer o processo eleitoral. Desta forma, o desenho eleitoral americano passa a serdefinido pelo conjunto de diferentes regras de cada estado. Na prática, aeleição para presidente dos Estados Unidos pode ser definida como 50 eleições, realizadas de forma simultânea em cada estado. De acordo com a adida para Assuntos de Diplomacia Pública da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, TaraRougle, essas regras foram criadas com o objetivo de fazer com que o presidentedo país seja eleito com votos espalhados por todos os estados e nãoacumulados em determinadas regiões. Trata-se de um processo indireto para escolher quem vaiocupar a Casa Branca, sede do governo federal. “O nosso presidente é eleito pormeio de um colégio eleitoral formado por pessoas eleitas para eleger. Mais queter a maioria dos votos, o sistema foi criado com o objetivo defazer com que o candidato tenha seus votos distribuídos por todo o país”, explicoua adida.O processo de eleição começa com as escolhas doscandidatos que vão concorrer. Essa disputa ocorre dentro dos doisprincipais partidos: o Democrata e Republicano e tem a característica de serquase tão acirrada quanto a dos escolhidos pelas legendas. Antes disso, os políticos que pretendem ter seus nomesdefendidos pelos partidos já passaram por um estágio inicial, com a formação deum “comitê exploratório” que tem a função de arrecadar dinheiro para a campanhae avaliar a viabilidade, ou seja, as chances do futuro candidato. Esse comitêse forma até dois anos antes da eleição. Os possíveis candidatos à Presidênciaprimeiro precisam enfrentar uma batalha para serem apresentadosformalmente pelo partido. Depois dessa fase inicial, começam as eleiçõesprimárias na qual os candidatos lutam dentro dos dois partidos. A temporada dasprimárias começa em janeiro e vai até junho. Neste ano, a disputa no PartidoDemocrata se deu entre Barack Obama e Hilary Clinton. Obama venceu Hilary e setornou o candidato à Casa Branca. Já no lado Republicano,o vencedor foi John McCain que desbancou Mike Huckabee e Ron Paul.Nas eleições primárias, os eleitores de cada um dos 50 estadosamericanos elegem delegados partidários. Na campanha, esses delegados prometemapoiar um determinado candidato. A escolha dos delegados também se diferenciade estado para estado. Alguns realizam votação com cédulas, ou seja, a“primária”. Outros utilizam o “sistema de reuniões políticas”, conhecidas como“caucus”. As primárias também ocorrem de três formas: fechadas, naqual os eleitores só podem participar da escolha do partido em que foremregistrados; abertas, na qual o eleitor pode votar na primária de qualquerpartido, mas só pode participar de uma, e ainda a primária, na qual os eleitorespodem votar nos candidatos dos dois partidos.Diferentemente do Brasil, o processo eleitoral nos Estados Unidosnão tem datas muito definidas, a não ser para o dia da votação final que ocorresempre na primeira terça-feira de novembro. “Não há feriado no dia dafinalíssima. É um dia normal de trabalho. Os locais de votação ficam abertos odia inteiro e as pessoas que desejam votar podem sair do seu trabalho, votar eretornar”, detalhou Tara Rougle.A escolha dos delegados, por exemplo, teve início mais cedoneste ano devido à disputa entre os estados para ver quem seria o primeiro arealizar as votações e a receber uma atenção maior dos candidatos. O estado deIowa geralmente é o primeiro a escolher seus delegados por meio de “caucus”. New Hampshire tem a tradição de realizar sua primária logo em seguida. Adisputa entre os dois estados fez com que neste ano eles realizassem a escolhano início de janeiro.Nos meses de agosto e setembro, os dois principais partidosrealizam suas convenções e escolhem seus candidatos oficiais. Só depois dasconvenções nacionais é que os candidatos entram em disputa.Hoje (4), os americanos vão às urnas para escolher o presidente.O voto não é obrigatório, como ocorre no Brasil e, para votar, é necessário sercidadão americano com mais de 18 anos. A eleição não é direta. Aovotar em Obama ou em McCain, os americanos elegerão, na verdade, os delegadosque são ligados aos partidos e que votarão no Colégio Eleitoral. Quem vencer emcada estado, levará todos os seus delegados ao Colégio Eleitoral. . “Os‘eleitos’ costumam respeitar a vontade popular”,explicou Tara Rougle.O número de delegados por estado depende do número dehabitantes de cada um e corresponde à representação desse estado noCongresso americano. O Colégio Eleitoral é formado por 538 delegados e paravencer, o candidato precisa obter a metade dos votos desses delegados mais um,ou seja, 270 votos. O mínimo de delegados é de três por estado, independentemente dapopulação. A Califórnia, por exemplo, com 36 milhões de habitantes, tem 55delegados do total de 538 do país. Vencer na Califórnia representa 10% dosvotos dos delegados.Em cada estado existe uma maneira de escolher os delegados etambém os tipos de votação diferentes. Alguns utilizam voto eletrônicoe outros permanecem com o voto em cédula O sistema eleitoral dos Estados Unidos permite, por exemplo, situaçõespitorescas na qual o candidato com mais votos populares acabe perdendo aeleição. “O colégio eleitoral é quem elege. Nosso sistema eleitoral permite casosem que o candidato que recebeu mais votos populares não vença a eleição. Issoocorreu quatro vezes em nossa história, a última em 2000 quando George W. Bushvenceu sem ter a maior parte dos votos”, destacou Rougle. Bush venceu Al Goreque teve cerca de 500 mil votos a mais que ele. O fenômeno também ocorreu comJohn Quincy Adams (em 1825), com Rutherford Hayes (em 1877) e com BenjaminHarrison (em 1889).Para Rougle, na reta final, a grande disputa ocorrerános estados nos quais a diferença entre os dois candidatos é pequena. Issoporque existem estados que têm certa tradição em votar em determinadospartidos. Os da parte norte do país, por exemplo, apresentaram ao longo da história umapostura de votar no Partido Democrata. Já os estados mais ao sul têm eleitorado mais conservador e tendem a votar no Partido Republicano.“As surpresas poderão ocorrer em estados como o Colorado, Ohio, Flórida,Missouri e Virgínia”, destacou Tara Rougle.