Alex Rodrigues
Enviado Especial
Macapá - Os reflexos da crise econômica mundial ainda não chegaram ao Porto de Santana, localizado a menos de 20 quilômetros do Aeroporto Internacional de Macapá (AP). Mesmo assim, a administradora portuária teme que, a partir do próximo ano, a movimentação de cargas, na melhor das hipóteses, passe a crescer abaixo das estimativas atuais caso a crise se prolongue por muito mais tempo.
“Ainda não estamos sentindo [os efeitos da crise], mas acreditamos que se ela se tornar mais contundente, irá sim provocar uma desaceleração [do ritmo de crescimento] da movimentação de cargas”, declarou o presidente da Companhia Docas de Santana (CDSA), José Adeilton Barbosa Leite, à Agência Brasil.
Segundo ele, até o momento, as previsões para este ano vêm se concretizando, e o prognóstico feito no início de 2008 deve ser atingido. “Até porque já estamos perto do final do ano e também porque os contratos comerciais que foram firmados antes do início da crise [em meados de setembro] têm que ser cumpridos”, explicou.
Para Leite, no entanto, pouca gente no mundo é capaz de dizer, com segurança, o que vai acontecer com a economia mundial nos próximos anos, de forma que ainda é cedo para responder quanto a crise poderá afetar as exportações e importações feitas por intermédio do Porto de Santana e, em conseqüência, a economia regional.
Mesmo assim, para checar a necessidade de adequar seu planejamento às novas circunstâncias, Leite diz ter pedido às empresas mineradoras que atuam no estado uma nova estimativa da quantidade de carga que esperam movimentar por meio do Porto de Santana nos próximos cinco anos.
“Coloquei como data-limite para que elas me respondessem o dia 20 de outubro. Até agora (28), ninguém me respondeu. Por quê? Porque ninguém sabe prever isso neste momento. Há muita incerteza e o nervosismo está acentuado, de forma que fica difícil fazer qualquer previsão”, declarou Leite.
No último ano, o Porto de Santana movimentou 1,36 milhão de toneladas de carga. Destes, 1.12 milhão de toneladas foram exportadas. Outros 247,5 mil toneladas foram importadas. Segundo Leite, no início de 2008, a Companhia Docas previu que atingiria movimentação anual entre oito e dez milhões de toneladas nos próximos dez anos. Agora, já refaz a conta. “Com a crise, achamos que isso não vai acontecer mais".
Para Leite, caso a crise econômica mundial se alongue, o Porto de Santana só não será mais afetado em termos de exportações porque o que é embarcado nos porões dos navios que zarpam com destino aos Estados Unidos, Caribe, Europa e Ásia [por meio do Canal do Panamá] são bens primários, não-manufaturados, como o minério de ferro, manganês, cromita, pasta de celulose, madeira e cavacos de eucalipto e de pinus.
“Pode ocorrer uma redução do ritmo de crescimento das exportações, mas de matéria-prima, como as que exportamos, o mundo vai continuar precisando”, disse Leite, explicando que, em 2007, mais de 90% de todos os produtos importados pelo Amapá passaram pelo Porto de Santana.
Para as importações, Leite prevê reflexos ainda menores. Além de o volume não ser tão grande, elas são essenciais à economia local. Devido à falta de estradas ligando o Amapá ao restante do país, parte das mercadorias que abastecem a região chega ao estado pelo Porto de Santana. De feijão, arroz e trigo a perfumes e eletroeletrônicos, parte chega em navios e balsas que descarregam no porto, parte em aviões.
Há ainda uma importante movimentação realizada pelos próprios ribeirinhos que transportam seus produtos em barcos de menor porte e que descarregam em vários pontos, inclusive ao longo da Avenida Beira-Rio, em Macapá.