Juntos no primeiro turno, PCdoB e PPS racham na disputa final em Porto Alegre

24/10/2008 - 19h36

Mylena Fiori
Enviada Especial
Porto Alegre - Uma das peculiaridades deste segundo turno das eleições de Porto Alegre é o racha entre PCdoB e PPS. Os dois, que integravam a mesma chapa no primeiro turno, foram para lados opostos – ambos apoiando candidatos que já pertenceram a seus quadros, mas trocaram as legendas pelo PT e pelo PMDB.No primeiro turno, Manuela D`Avila (PCdoB) e o candidato a vice, Berfran Rosado (PPS), obtiveram 15,35% dos votos dos porto-alegrenses – em quase toda a campanha da dupla aparecia à frente de Maria do Rosário nas pesquisas (Manuela foi a deputada federal mais votada no Rio Grande do Sul nas eleições de 2006). Também integrava a coligação o PSB, aliado nacionalmente do governo Lula, além de PR, PTdoB, PMN e PTN.A insólita aliança do PPS com PT e PSB foi explicada pelo presidente municipal do partido, Paulo Odone, como uma tentativa de superar a tradicional polarização PMDB-PT. “É um bloco que nunca existiu, com partidos bem diferentes, é verdade. Mas era uma tentativa de superar o velho maniqueísmo, uma tentativa de construir uma terceira posição no estado”, disse Odone, destacando que PCdoB e PSB "estavam cansados de ficar na periferia do PT [partido que sempre concorre com chapas puro sangue]". Pela primeira vez, o PPS se contentou com a posição de vice e inclusive ameaça de expulsão integrantes do governo Fogaça, que fizeram campanha para o candidato do PMDB no primeiro turno, contrariando a decisão do partido. A aliança com os partidos de esquerda, embora derrotada, rendeu ao partido a eleição de três vereadores. Segundo Odone, a intenção tanto do PPS quanto do PSB era manter a união após as eleições, o que não aconteceu. Apesar dos atritos do primeiro turno, o PCdoB nacional, aliado do PT e partido no qual Maria do Rosário iniciou sua carreira política (como vereadora em 1992), decidiu, no segundo turno, “perseguir vitórias que consolidem o quadro positivo para as forças de esquerda de sustentação do governo Lula”.O PSB acabou optando pela neutralidade. E o PPS, declarou apoio a Fogaça. “A Maria do Rosário já tinha rejeitado o PPS publicamente, não tínhamos como apoiá-la”, justificou o presidente municipal do partido. “Não podíamos manter uma postura independente, pois isso significaria liberar os nossos partidários para votarem na Maria do Rosário. Entendemos que, apesar das mágoas que possam existir, apoiaríamos Fogaça, pois ele é aberto a alianças, como o PPS”, diz Odone.Eleito prefeito em 2004 justamente pelo PPS, Fogaça anunciou que retornaria ao PMDB (partido que abandonou em 2001) em setembro de 2007. “O partido tem ressentimentos, não há dúvidas”, reconheceu Paulo Odone. Ele lembrou que o PPS era um partido muito pequeno e, ao eleger Fogaça como prefeito, ele se tornou o principal nome do PPS no estado. Além disso, a maior parte do governo municipal era do PPS. “Foi um baque para nós”, disse o presidente do partido em Porto Alegre. A mágoa não impediu a reaproximação com o atual prefeito. Paulo Odone garantiu que o apoio não está condicionado a cargos e que tais negociações ainda sequer estão em pauta. Fogaça já demonstrou que quer o PPS a seu lado. Em seu último comício, ontem à noite, o candidato à reeleição agradeceu todos os apoios recebidos, mas pediu licença aos demais partidos, para um especial reconhecimento ao PPS pelo seu “gesto de grandeza inaudita e de maioridade política”.