Para movimentos sociais, tropas no Haiti são ocupação e não força de paz

16/10/2008 - 7h50

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Movimentos sociais brasileiros, como a Assembléia Popular e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que apóiam organizações da sociedade civil do Haiti, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) não é uma força de paz, mas sim de ocupação. Para esses movimentos, a missão deve deixar imediatamente o país caribenho, apesar de seu mandato ter sido renovado na última terça-feira (14) pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.“A gente entende que as tropas são de ocupação no país, e por princípio nós somos contra qualquer tropa de ocupação à força, pela coerção. Apesar de ela vir com uma tarja de que são tropas para manter a paz, nós entendemos que ela tem um objetivo claro na região do Caribe, que é onde tem mobilizações sociais”, explica a porta-voz do MST em São Paulo, Soraia Soriano.De acordo com ela, o movimento vê na Minustah o objetivo de reprimir os movimentos sociais organizados no país caribenho, e não manter a paz. Soraia diz que, de acordo com informações recebidas de organizações parceiras, é justamente nos locais onde há mobilização popular que as tropas estão, “locais onde o nível de pobreza é muito acentuado, as grandes favelas”.Soraia lembra as manifestações de abril, que culminaram na queda do primeiro-ministro, Jacques Edouard Alexis, e que foram contidas pelas tropas da Minustah. “A tarefa é manter a paz ou reprimir as manifestações e os trabalhadores?”, questiona.A porta-voz relata que, por causa desse posicionamento, o MST, a Assembléia Popular e outros segmentos da sociedade civil brasileira, como correntes internas do Partido dos Trabalhadores (PT), organizaram na sexta-feira passada (10) manifestações em pelo menos cinco capitais, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.No documento em que convocaram a mobilização, os movimentos também pediram doações para serem enviadas ao Haiti e que cada organização participante enviasse mensagens para autoridades brasileiras e também a entidades haitianas, defendendo a não-renovação da missão.Na mensagem também foi anexado um comunicado assinado por 20 organizações haitianas, pedindo a ajuda e solidariedade internacional para reconstruir o país depois da passagem de quatro furacões e também a saída das tropas de ocupação militar.“Que os 40 governos que mantêm estes regimentos de ocupação, que custam anualmente US$ 540 milhões [valor divulgado no site da Minustah), retirem imediatamente seus regimentos, e, se quiserem verdadeiramente ajudar o povo haitiano, utilizem esses US$ 540 milhões para substituir seus soldados por bombeiros, médicos, pessoal de segurança civil, técnicos, operários para reconstruir as estradas e toda a infra-estrutura destruída”, diz o comunicado.