Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A flutuação do valor do dólar no Brasil entre R$ 2 e 2,10 poderia ser considerada satisfatória, depois de passada a crise do sistema financeiro internacional, segundo o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), Manoel Henrique Garcia.Na semana passada, a moeda americana chegou a ser cotada no mercado brasileiro em até R$ 2,55 e ontem fechou a R$ 2,2, depois que o Banco Central, ancorado nas reservas internacionais que o país detém, continuou promovendo leilões, aumentando a circulação da moeda no mercado interno e forçando a baixa da cotação. Em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional, o professor afirmou que a moeda americana não tem mais possibilidade de voltar a valer R$ 1,55 ou R$ 1,70, como chegou a ser cotada há algumas semanas. Isso porque a crise internacional reduziu a entrada de dólares no país. Com isso, as empresas que tomam dinheiro emprestado no exterior para financiar seus investimentos no Brasil já estão sentindo a escassez do dinheiro.Ele lembrou que os importadores, por sua vez, têm que pagar suas dívidas em dólar, a dívida externa do país é administrada com amortização em dólares, os bancos têm que pagar linhas de crédito na moeda americana também e não há entrada suficiente de recursos dessa natureza.Segundo Manoel Henrique Garcia, o dólar que está entrando no país vem do setor exportador, mas o saldo líquido não é suficiente para atender à demanda, "que é grande e ficou travada de repente". Segundo ele, a busca de dólares no mercado, dentro dessa situação, provoca escassez e, consequentemente, alta."Por isso o Banco Central entra no mercado vendendo dólar à vista, embora com compromisso de recomprar no futuro. Mas isso tem que ser feito para que a moeda americana não volte a subir acima de R$ 2,55, cotação que ficou extremamente alta em vista da realidade anterior que o mercado cambial vivia", explica.A ganância dos comerciantes, também, na opinião de Garcia, acaba forçando a alta do dólar, "pois eles estavam acostumados a um rendimento menor e se aproveitam agora para lucrar mais". Assim, o preço do pão francês tende a subir, a carne que vem da Argentina e que é usada em boa parte nas nossas churrascarias também está subindo. "Isso tudo apesar das compras terem sido feitas há meses", diz Garcia.Garcia afirmou que devem aumentar também os preços dos medicamentos, porque a matéria prima é toda importada. A taxa de câmbio é muito utilizada no país para controle da inflação por isso a tendência é de que os preços aumentem em inúmeros setores.O Brasil, que teve superávit (diferença entre exportações e importações) de até US$ 45 bilhões na balança comercial, deve amargar neste ano saldo de apenas US$ 27 bilhões, podendo ter até saldo negativo em 2009, segundo avalia o professor da USP.