Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
São Caetano do Sul - Um estrangeiro que desembarcasse em São Caetano do Sul, município do Grande ABC paulista, demoraria a notar que seus cidadãos participam hoje (5) de um dos atos mais importantes da vida democrática de uma cidade: as eleições municipais. Mesmo com a chuva que caiu durante toda a madrugada tendo dado uma trégua, é difícil encontrar pelas ruas qualquer manifestação popular.
Além de percorrer, de carro, parte dos 15 quilômetros quadrados da cidade, a reportagem caminhou pelas imediações de quatro locais de votação de diferentes bairros e não presenciou qualquer cabo eleitoral distribuindo panfletos ou fazendo propaganda política..
Na Escola Estadual Professora Eda Mantoanelli, no bairro Santa Maria, a polícia chegou a ser acionada devido a uma denúncia não-confirmada de que estaria havendo panfletagem irregular. Apesar de haver grupos reunidos na esquina do colégio, ninguém usava camisas ou adereços que os identificassem com qualquer candidato. De acordo com a Polícia Militar, até às 15 horas não havia sido registrada nenhuma ocorrência relacionada a crime eleitoral.
Já na Escola Estadual Bonifácio Carvalho, o advogado Flávio Ferreira discutia com seu filho, Diego Genaro Ferreira, de apenas 12 anos, as desvantagens da proibição à boca de urna.
“Estas eleições estão tristes, frias. A eleição não é mais uma festa, é apenas uma obrigação sem brilho”, reclamou o advogado. “Eu sou do tempo em que o chão ficava cheio de papel, o povo se reunia nas portas das escolas para conversar sobre os candidatos. Hoje é um negócio sem graça, sem uma bandeira. Eu trago meus filhos para mostrar uma festa democrática e eles me perguntam, “que festa pai ? Você entra, vota em poucos segundos e volta para casa”. Diego, por sua vez, acredita que a proibição favorece a cidade no aspecto limpeza, mas diz que gostaria de ter presenciado uma eleição como as que seu pai relembra. “Queria muito ter acompanhado essa época”. Tanto para o técnico em informática, Joelmir Brito de Almeida,quanto para a escriturária Marli Lourenço, a boca de urna e outrasformas de propaganda devem continuar proibidas no dia da eleição. “Eu acho que tem que ser proibido porque a boca de urna podeinfluir na decisão de um eleitor que já escolheu um candidato e, naúltima hora, muda de candidato a troco de nada, sem conhecer aspropostas”, alega Almeida. Marli usa o mesmo argumento para defender aatual legislação eleitoral e diz que, com a proibição, a cidade ficamais limpa e o voto mais consciente. “Para mim, este ano está melhor doque quando ainda era possível fazer propaganda durante a eleição”.
Para o juiz eleitoral responsável pela 269 Zona Eleitoral, Sergio Sakagawa, a calma com que o pleito transcorre tem mais a ver com as próprias características da população de São Caetano do Sul, cidade com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). “Não há apatia, há tranqüilidade. Como o nível da população é muito bom, ela tenta atender o que a Justiça Eleitoral estabelece. Aliás, São Caetano sempre deu exemplo nesse aspecto. Nunca tivemos problemas e, se Deus quiser, até o final do dia continuará assim”, afirmou o juiz, garantindo que a votação se encerrará até as 17 horas e que o resultado final deve ser conhecido até o final desta noite.