Jorge Wamburg
Enviado especial
São João Batista (SC) - Saúde e segurança são os principais problemas deste município catarinense onde as eleições municipais de amanhã (5) serão realizadas com urna biométrica, que identifica o eleitor pelas impressões digitais. São João Batista é um dos três onde o sistema será usado, pela primeira vez, este ano. Os outros são Fátima do Sul (MS) e Colorado do Oeste (RO). Embora garantir a segurança pública seja uma obrigação do governo estadual, o eleitor sanjuanense espera empenho da prefeitura para melhorar a situação, que vem se agravando, dado ao intenso crescimento populacional e à precariedade dos serviços de policiamento e bombeiros. As dificuldades em termos de saúde e segurança pública ficam claras nas palavras de quem trabalha, diariamente, atendendo a população da cidade, em casos de acidente. O soldado do Corpo de Bombeiros Luciano Amorim, 22 anos e há quatro na corporação, explica que o município tem apenas um hospital público, que conta com "sete, oito médicos". Segundo ele, não há ortopedistas entre os médicos e o hospital não tem aparelho de radiografia. Como consequência, os casos de fratura têm que ser encaminhados pelos bombeiros para Tijucas, a 25 km de distância, quando se trata de membros superiores, ou Florianópolis, no caso dos membros inferiores, principalmente fêmur, que necessita de cirurgia. Esses casos são mais freqüentes do que se possa imaginar para um município com apenas 22 mil residentes registrados em 2007 por um motivo: o alto índice de acidentes de motocicleta, que chega, às vezes, a oito por dia, com pelo menos duas mortes por mês, segundo relato do soldado bombeiro. Isso é consequência do constante aumento do volume de trânsito na cidade, nos últimos anos, principalmente de motos, com o crescimento da indústria de calçados femininos, que é a principal atividade econômica da cidade, empregando pelo menos 90% da população, segundo comerciantes e outros moradores locais. Mas não é só a violência no trânsito que preocupa a população nestas eleições. Há um componente que domina todas as conversas quando o assunto á segurança pública: o alto índice de consumo de drogas na cidade, gerado também pela chegada de muitos forasteiros que vêm atraídos pelos negócios e os empregos oferecidos pela indústria de calçados. Essa é a opinião do motorista de táxi Xavier, antigo morador local, que trabalha com dois táxis na cidade. Ele conta que o perigo das drogas é real para os jovens de São João Batista, onde não há opções de lazer, como cinemas, shoppings e esportes. Na semana passada, um fato chocou a população batistense, quando o fiscal de obras Valdir Atanásio dos Santos Filho, 41 anos, matou a tiros, numa crise de ciúmes, sua ex-mulher, a professora e conselheira tutelar Maria Therezinha Faris dos Santos, 30 anos. Ela chegava à escola de Ensino Fundamental Professor Patrício Teixeira Brasil, no centro da cidade, quando o ex-marido a matou diante dos alunos, no início das aulas, às 7h30. O taxista ficou com receio de que sua filha, que estuda na escola, estivesse na secretaria quando ocorreu o crime. "Se estivesse lá fora, poderia até levar uma bala perdida". O criminoso se matou mais tarde com um tiro na boca, na localidade de Nega Chica, município de Major Gercino, a 25 km de São João Batista. Segundo o bombeiro Luciano Amorim, só há no município três policiais militares por dia para atender à população e tanto a Polícia Militar quanto os bombeiros estão ameaçados de despejo, pois ocupam as dependências de um sindicato que quer sua saída do local. Para piorar a situação, os bombeiros estão sem caminhão, já que ontem (3) o veículo da corporação bateu num ônibus escolar e não tem condições de rodar.