Liliane Farias, Leandra Felipe, Paula de Castro e Ivan Richard
Repórteres da Agência Brasil e da Rádio Nacional
Brasília - O Distrito Federal é a única unidade da federação onde não serão realizadas eleições municipais. Mesmo assim, todos os dias a população de Brasília é surpreendida com a circulação de automóveis com propagandas de candidatos a prefeito ou a vereadores das cidades do Entorno. Mas a curiosidade é relativa, porque Brasília assiste de longe e, muitas vezes, com indiferença, às eleições municipais nas cidades que a cercam.Ao todo, 42 municípios (29 de Goiás e 13 de Minas Gerais) compõem o Entorno do DF. Muitos são as chamadas cidades-dormitórios, porque grande parte da população economicamente ativa se desloca todos os dias para trabalhar no Distrito Federal, no Plano Piloto, centro habitacional, administrativo e comercial de Brasília, e retorna para suas casas no fim do expediente. Além disso, muitas dessas cidades dependem da rede de saúde e de educação do DF. Sem oportunidades em seus municípios, os moradores das cidades do Entorno também aproveitam as opções de lazer da capital.Também é comum no período de eleições municipais eleitores do Distrito Federal transferirem os títulos para as cidades do Entono para votar ou mesmo disputar um cargo de prefeito ou uma cadeira nas câmaras municipais. A reportagem da Rádio Nacional esteve em algumas das principais cidades goianas, que compõem o Entorno do DF, para acompanhar o clima das eleições.Em Luziânia (GO), que fica a 65 quilômetros do Plano Piloto, as principais atividade econômicas são a produção de soja, milho e a pecuária. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município possui 196.046 habitantes. Desses, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás, 98.608 são eleitores.Os políticos do município se comprometeram a realizar uma “campanha limpa”, sem pintar os muros e ainda respeitar o horário de circulação dos carros de som, fixado das 9h às 18h. Em Luziânia, três candidatos disputam o cargo de prefeito: Dr. Célio (PSDB), que tenta a reeleição, Augustinho (P-SOL) e Didi Viana (PT). Ao todo, 150 candidatos tentam uma das vagas para vereador no município.Em Águas Lindas (GO), a 50 quilômetros de Brasília, o clima é de descrédito em relação às eleições. A campanha dos seis candidatos a prefeito e dos 204 candidatos a vereador não chega a empolgar a população. A apatia dos moradores está relacionada às denúncias de corrupção que recaem sobre os políticos, de uma forma geral, e, em particular, ao quadro de abandono em que vive a cidade. Com pouco mais de 130 mil habitantes, o município está entre os dez mais violentos do país e enfrenta uma grave crise na saúde, provocada pela falta de médicos.A cozinheira Ivanilde de Lima, por um ano tentou fazer uma operação no útero, em uma unidade hospitalar do município, e não conseguiu. A saída foi recorrer a um hospital do interior da Bahia. “Estou sem trabalhar há três anos por causa do meu problema de saúde. Só posso voltar depois que for operada novamente”, afirmou.“Isso desanima muito. Não dá para acreditar nos governantes [de Águas Lindas], porque eles não fazem nada do que deveriam fazer. Águas Lindas é só poeira, não tem esgoto, emprego, não tem nada”, desabafou a cozinheira.De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Goiás, 59 mil eleitores terão o desafio de superar as recentes decepções e eleger seus governantes.Localizada a 90 quilômetros de Brasília, Formosa (GO) nem de longe lembra uma cidade em período eleitoral. Não há distribuição de panfletos nem muros pintados com propaganda eleitoral. A população de 90.212 habitantes demonstra pouco entusiasmo com as eleições. O estudante Raian Bastos de Assis reclamou da falta de oportunidades no município. “Acho que precisamos de mais empregos para os jovens. Tinha que haver mais cursos profissionalizantes”, afirmou.Já o presidente da Câmara de Diretores Logistas (CDL) de Formosa, Ronaldo Alves, disse que faltam investimentos. “Uma grande empresa, que se instala em Brasília, impede totalmente o desenvolvimento do Entorno. Essa empresa vai gerar postos de trabalho para Brasília, e também para o Entorno, mas a gente fica apenas como consumidor e a riqueza permanece em Brasília”, argumentou Alves.Fundada há 12 anos, a cidade do Novo Gama (GO), a 40 quilômetros do Plano Piloto, enfrenta problemas com a falta de segurança e de hospitais. A cidade conta com 14 postos de saúde e um centro ambulatorial, além de uma ambulância. Nos casos graves, a saída é recorrer a Brasília.Na cidade a disputa pela prefeitura ocorre entre seis candidatos. Já a campanha pelas vagas da Câmara de Vereadores ocorre entre 169 candidatos.