Governo deve conter gastos e não aumentar juros, diz Ricupero

09/09/2008 - 18h16

Luciana Lima e Wellton Máximo
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Ex-ministro da Fazendado governo de Itamar Franco, o economista Rubens Ricupero defende queo Banco Central não deve aumentar a taxa de juros. “O maisplausível seria o Banco Central manter o atual nível,esperar mais um pouco. Se há dúvida em relaçãoà pressão que está ocorrendo nos preçosda prestação de serviços, é melhor daruma pausa e não agravar anda mais, com um novo aumento dataxa”, disse o ex-ministro, que participou hoje (9) do seminárioCrescimento com Distribuição de Renda, em comemoraçãoaos 200 anos do Ministério da Fazenda.Ricupero disse aindaque o governo deve evitar uma situação de“vulnerabilidade”, com o aumento dos gastos em níveisacima do crescimento da economia. “Acho que no momento épreciso procurar evitar uma situação devulnerabilidade. Por exemplo, acho que o governo deveria ter muitaatenção e não continuar o aumento dos gastos noano que vem a um ritmo superior ao crescimento do economia. Issopoderia dar nos trazer surpresas”, alertou Ricupero.A tarefa de barrar ainflação, na opinião do ex-ministro, nãopode ficar a cargo somente do Banco Central. Ele chegou a citar apossibilidade de se rever o prazo de financiamentos. “Éimportante que não se deixe apenas a política dos jurosdo Banco Centra com a tarefa de tentar moderar esse consumo. Deveriahaver medidas, que eu vi que o ministro [Guido] Mantega jácogitou, de rever prazos dos créditos para reduzir um pouco ademanda”, destacou o ex-ministro. “A meu ver, o ministro Mantegaestá consciente disso e, no momento oportuno, fará asmudanças”, completou.Ao sair da palestra,Ricupero salientou que houve um alívio nos preços dosalimentos e alertou que existe uma fuga de capitais do país,que já se expressa nas negociações da Bolsa deValores, o que deveria servir como sinal de alerta.“Já ontem abolsa já estava descolada do que estava acontecendonacionalmente. Acho que a explicação básicadisso é que muitos fundos que tinham investido no Brasil estãoagora vendendo suas posições, porque estãoprecisando de recursos fora do Brasil. Esse é o fenômenoque os economistas chamam de ‘desalavancagem’. Como a situaçãointernacional é complicada e ainda se teme que haja outrosesqueletos, além do que foi revelado domingo pelo governoamericano, eles estão se retirando investimentos da bolsabrasileira e, com isso, sai um volume muito considerável derecursos”, analisou o ex-ministro.A segunda razãopara que o Banco Central não aumente os juros, destacada porRicupero, é que o crescimento da economia tem sido puxado peloconsumo interno. “Como nossa economia está crescendo,sobretudo puxada hoje em dia por fatores internos e não pelocomércio exterior, ela cresce basicamente por causa doconsumo, tanto das famílias , como do governo”, disse oex-ministro.Ao participar doseminário que reuniu muitos dos que passaram pela pasta daFazenda, Ricupero destacou o controle da inflação comogrande feito da economia brasileira. “O desafio da inflaçãoficou pra trás”, disse Ricupero, que conduziu a pasta daFazenda de março a setembro de 2004.“Esse desafio ficoupra trás. Acho que temos aqui economistas que participaram deduas vertentes de uma curva pela qual passou a economia do Brasil.Uma descendente, na qual o Brasil sempre caminhava para trás,sempre caía. A outra, ascendente, que é a que nósestamos vivendo agora”, destacou.Ricupero teve quedeixar o ministério devido ao desgaste de ter dito que “oque é bom a gente mostram o que é ruim a genteesconde”. A frase foi proferida em um momento em que o ministro sepreparava para uma entrevista e acreditava que as câmerasestavam ainda desligadas.O economista se situouna fase descendente da economia e, segundo ele, em sua fase maiscrítica. Ele confessou ter sentido medo de aceitar a pasta daFazenda. Na época, Ricupero era ministro do Meio Ambiente.“Itamar queria que eu fosse para Fazenda. Eu não queria, nãopor humildade, mas por medo”, destacou.Na opinião doex-ministro, o clímax dessa curva e o fator que determinou suareversão foi o lançamento do real. O grande sucesso danova moeda, de acordo com Ricupero se deu mais em funçãoda aceitação da sociedade.“O Plano Real teve avantagem de valorizar a mediação com a sociedade e usouuma linguagem singela, objetiva, clara, proporcionando informação,evitando o uso do ‘economês’. Demos informaçõese isso sem agências de publicidade. O que foi importantenaquela época foi que a nação se converteu aidéia de que a estabilidade monetária era importante”,lembrou. “Seria paternalismodizer que nós ensinamos. Não foi assim. As pessoas jásabiam de forma confusa. Nós só tornamos essas idéiasclaras, explícitas”, disse o ex-ministro. A calmaria dasagências bancárias no dia do lançamento do planoveio como um alívio para a apreensão do ministro.“Naquele primeiro dejulho de 1994 percorri várias agencias de Brasília edas cidades satélites e vi que estava tudo calmo. Foi umasexta-feira. Nós tínhamos até planejado abrir osbancos no fim de semana para evitar tumultos e vimos que nãohavia mesmo necessidade, pois no Brasil todo o que ocorreu foi umclima de tranqüilidade. A sociedade entendeu porque teveinformação clara. Não teve medo de confisco, demedidas arbitrárias e mirabolantes”, disse o ex-ministro.Ricupero ainda destacouque para a formação do Plano Real muitos conhecimentose erros dos planos lançados até então foramaproveitados. “As pessoas que passaram pela experiência docruzado aprenderam alguma coisa”, destacou.