Menos trabalhadores tiveram reajuste acima da inflação no primeiro semestre, mostra Dieese

04/09/2008 - 18h41

Alana Gandra e Flávia Albuquerque
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro e São Paulo - Estudo do DepartamentoIntersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos(Dieese), seção Rio de Janeiro, mostra que a proporçãode acordos e convenções trabalhistas com ganhos reais,acima da inflação, foi de 73% das negociações no primeiro semestre. Em 2007, no mesmo período, esse índice foi superior a 80% das negociações. O estudo apontou também que foi maior a proporção dostrabalhadores que não conseguiram recuperar as perdasinflacionárias. Segundo o supervisor doDieese no Rio, Paulo Jager, em 2007, esse patamar era de 3,5% epassou para 14%, entre janeiro e junho de 2008. “Cresceu detamanho. Há uma menor proporção de acordos econvenções com resultados acima da inflação,ou seja, com ganhos reais”, relatou.O economista do Dieesedestacou, entretanto, que não significa que as negociaçõespioraram. Desdobrando os números por faixas mais detalhadas,chega-se à conclusão, de acordo com ele, que existe umaconcentração de acordos e convençõesacima da inflação. Os reajustes salariaisque tiveram ganhos reais sobre a inflação, no primeirosemestre, estão na faixa da reposição até1,5% de ganho. Alguns acordos atingiram 5% de ganho real. Areferência é o Índice Nacional de Preço aoConsumidor (INPC). Em 2007, houve maior número de documentosem faixas mais elevadas. Segundo Jager, temhavido ganho real em diversos setores da atividade econômica,“ainda que em proporção muito aquém do quedeveria ser”. Conforme o tambémeconomista do Dieese/RJ, Jardel Leal, isso significa que os ganhosreais não estão sendo percebidos pelos trabalhadorescomo uma vantagem. Para ele, o motivo é o fato do percentualde reajuste para alcançar a inflação ser muitobaixo. “Eles não chegam a sentir a melhora que issorepresenta”, disse.Com base no critériode arredondamento do INPC – que leva em conta variaçãode 0,4% para cima ou para baixo do índice - verifica-se que52,4% dos reajustes ficaram acima da inflação, 41,7% seigualaram e 5,8% não conseguiram recuperar as perdas.Já levantamento do Dieese São Paulomostrou que das 309 categorias com data-base no primeiro semestre,86% conseguiram reajustes que asseguraram a recomposiçãoda inflação.Os dados indicam que 4% das categorias tiveramreajustes insuficientes para recuperar o poder de compra dos saláriosem relação à data-base anterior. Os setores que apresentaram maior concentraçãode reajustes salariais acima da inflação foram aindústria e comércio, com 81,3% e 80%, respectivamente,em relação às negociaçõesefetuadas.No setor de serviços, o índice foide 64% de ganhos reais dentre as negociações. Asregiões onde ocorreram os melhores reajustes foram a Sul(85,7%) e a Centro-Oeste (84,6%), seguidas do Nordeste (69,7%),Sudeste (68,3%) e Norte (62,5%).O coordenador de Relações Sindicaisdo Dieese/SP, José Silvestre, disse que, desde 2004, vemocorrendo uma melhora do poder de compra dos salários dotrabalhador. “O que tem ocorrido é que, como a economia temcrescido e melhorado desde o último trimestre de 2003, issotem permitido aos sindicatos fazer uma negociação nocampo salarial de recuperação de suas perdas, nessesperíodos, e também do ganho real”, explicou.Silvestre acredita que ainda haja espaçopara elevação dos salários já que, naavaliação dele, não é a remuneraçãodo trabalhador que pressiona a inflação, que, para ele,tem influência da economia mundial e é focada emalimentos e commodities minerais. O economista da Força Sindical, MarcosPerioto, reforçou que o os trabalhadores representados pelossindicatos foram a maior parte dos que conquistaram as reposições.“Queira ou não os sindicatos representam os trabalhadoresque têm carteira assinada”, afirmou.Já o secretário-geral daConfederação Nacional dos Trabalhadores do RamoFinanceiro da Central Única dos Trabalhadores (CUT),Carlos Alberto Cordeiro da Silva, alegou que aprodutividade dos setores é maior do que os reajustessalariais concedidos aos trabalhadores, o que derruba o argumento dosempresários que dizem que o aumento do salário podecausar inflação. “Ao contrário. Nós queremos éincorporar parte da produtividade de todos os setores nos salários.Nós precisamos ampliar a renda dos trabalhadores no PIB[Produto Interno Bruto]”, disse .