Medicina fetal deve tratar anencéfalo como paciente, defende médico

04/09/2008 - 16h44

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente daComissão de Ética e Cidadania da Academia Fluminense deMedicina, médico especialista em ginecologia e obstetríciaDernival da Silva Brandão, revelou ao participar hoje (4) daterceira audiência pública no Supremo Tribunal Federal(STF), que atendeu inúmeras gestantes que carregavam fetosanencéfalos e que nenhuma dela optou pela antecipaçãodo parto. “O aborto terapêuticoé questionado por autoridades médicas. A medicina temhoje condições de levar essa gravidez ao fim. Amedicina fetal deve tratar o paciente intra-uterino como o pacienteque o é. A violência contra um ser humano indefeso nãoé compatível com a consciência ética domédico nem com a missão e a nobreza da medicina”,afirmou no depoimento na audiência que discute a interrupçãoda gravidez de anencéfalos. Ele destacou que aciência deve se colocar sempre em favor da vida e do bem-estardo ser humano, e que a reduzida expectativa de vida do bebêdiagnosticado com anencefalia não limita seus direitos ou suadignidade humana.“Cabe ao médicoo cuidado com a gestante de um filho doente, dando-lhe apoio afetivoe psicológico. Na anencefalia, não existe perigo atual,real e iminente. O aborto terapêutico só pode ser feitonesses casos”, defendeu.A pediatra ecoordenadora do Serviço de Neonatologia e da UTI Neonatal doHospital São Francisco, Cinthia Macedo Specian, lembrou em seudepoimento que na década de 80 foi realizado um estudo nosEstados Unidos com o objetivo de avaliar a possibilidade de doaçãode órgãos de bebês anencéfalos e para aconfirmação de morte encefálica dos fetos.Segundo ela, 12 bebês foram observados, e “eles emitiamsinais clínicos como resposta auditiva e respiraçãoespontânea em 100% dos casos. E sequer foram colocados em UTI”.“O indivíduocom morte cerebral não apresenta atividade elétricacerebral. Não se usa a terminologia de morte encefálicaem feto com anencefalia”, afirmou a pediatra.Ela explicou que apenasapós a 24ª semana de gestação pode-seobservar o grau de desenvolvimento, ainda que rústico, doencéfalo do feto, “ainda assim, sem precisão”. Por essa razão,Cinthia acredita que não houve erro de diagnóstico nocaso Marcelo de Jesus – bebê brasileira diagnosticada comanencefalia que sobreviveu por um ano e oito meses.“O diagnósticofoi correto. Os ossos do crânio não estavam formados. Sóapós o nascimento dela, pôde-se observar que era umameroencefalia. O desenvolvimento do encéfalo prossegue atéo término da gestação”, explicou.Ieda Therezinha doNascimento, médica endocrinologista e membro da Associaçãode Desenvolvimento da Família (Adef), pediu que o STF “nãovolte à barbárie” e que repense o risco de se avaliarum ser humano de acordo com a sua eficiência.