Ministério Público denuncia participação de ONG em lobby no Congresso para ajudar PCC

29/08/2008 - 19h33

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Investigações realizadas pelo Grupo de Atuação Especial de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de São José dos Campos, de Presidente Prudente e de São Paulo revelaram que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que age dentro dos presídios de São Paulo, mantinha contatos com o Congresso Nacional por meio de uma organização-não governamental (ONG) para interferir na CPI do Sistema Carcerário.De acordo com a denúncia do Ministério Público, a facção mantinha contatos com uma pessoa ligada a essa ONG e em determinado momento pagou R$ 2 mil para que um homem chamado de “Dr. João” fosse a Brasília para participar de uma audiência. O nome da ONG não aparece nos autos da ação.Segundo o MP, Marlon José de Souza Rosa, conhecido como Melke ou MR, e Orlando Motta Junior, conhecido por Macarrão ou Kalakalu, controlavam p “Sintonia das Gravatas”, braço jurídico do PCC que arrecadava por mês R$ 250 mil usados para pagar os advogados. O responsável por esse braço jurídico era Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola , líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).Ainda de acordo com a denúncia, o grupo se dispôs a pagar as despesas de uma determinada “Cida” que iria a Brasília para assegurar que ela defenderia os interesses do PCC no Congresso Nacional.“No dia 20 de abril de 2008, o denunciado Marlon Rosa fez contato com uma certa Cida, membro de uma associação ligada ao sistema prisional paulista, que havia sido convidada para ir à Câmara dos Deputados, em Brasília, para discutir questões sobre o sistema prisional. No dia seguinte, Marlon e Orlando conversaram sobre o assunto e reiteraram o interesse do PCC em pagar as despesas de viagem de Cida, pois ela defenderia teses simpáticas à organização criminosa perante o Congressol”, diz o documento do Ministério Público.Além disso, foi apurado que a facção mantinha um esquema no qual advogados eram contratados para cuidar exclusivamente da defesa dos membros do PCC nos processos judiciais. No último final de semana, na semana passada e no dia 25 de julho, 11 pessoas ligadas ao PCC, entre os quais quatro advogados, foram presas em operações do Gaeco.Os presos foram denunciados à Justiça pelo Ministério Público de São José dos Campos. Por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, o Ministério Público descobriu ligações feitas de dentro dos presídio de Presidente Venceslau.Por conta disso foram presas as advogadas Alessandra Moller, que coordenava a equipe de defensorea do PCC na cidade de São Paulo, e Patrícia Galindo de Godoy, que cuidava dos interesses do grupo no interior do estado. Com Patrícia foram apreendidos R$ 35 mil em dinheiro, sete aparelhos celulares, documentos e planilhas de contabilidade. Com Alessandra, foram encontrados documentos, R$ 2.850 em dinheiro, computadores, um notebook, agenda, quatro aparelhos de celular, planilhas eletrônicas de contabilidade e relatórios mensais de advogados contratados pelo PCC.Já o advogado Júlio Cesar da Silva, de São José dos Campos, também preso na operação, negociava a entrada de celulares no presídio e é acusado de usar dinheiro do tráfico para subornar policiais durante a prisão de traficantes ligados a Macarrão. O advogado José Luiz Correia Menezes. Nas investigações, Menezes aparece negociando propina com policiais da Capital para aliviar a situação de traficantes da quadrilha de Macarrão, presos em flagrante.O Gaeco prendeu ainda Jamilson de Andrade Fernandes, que havia se mudado recentemente para São José dos Campos, onde preparava a abertura de um ponto de venda de drogas no Parque Interlagos. Jamilson é apontado como o gerente dos pontos de droga comandados por Macarrão de dentro do presídio, em São José dos Campos e na Cidade Dutra, na capital. Com ele foram apreendidos R$ 7 mil em dinheiro e nove aparelhos de celular.Além dele foi presa sua sogra, Maria Inês da Silva, que cuidava da contabilidade do tráfico e ajudava na logística da distribuição das drogas. Também em São José dos Campos foi presa a esposa de Macarrão, Maria Jucinéia da Silva. Irmã de Maria Inês, ela é acusada de lavagem de dinheiro da quadrilha. Ela tinha R$ 12.400 em dinheiro, seis aparelhos celulares e um computador. Na Cidade Dutra, em São Paulo, foi presa Sirlene Costa Aguilar, a Melana, moradora da favela e responsável pela venda de drogas na região a mando de Orlando Motta Junior. A irmã dela, Soraya Medina de Aguilar, a Marli, também foi denunciada. Ela havia sido presa em abril, no Vale do Paraíba, quando transportava cocaína a mando de Orlando Mota Junior. Todos os 11 acusados foram denunciados por formação de quadrilha e alguns deles por associação para o tráfico e lavagem de dinheiro proveniente do tráfico de drogas.