Preço de alimentos cai, mas para consumidor dinheiro continua curto, diz economista

20/08/2008 - 14h37

Marli Moreira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Adesaceleração inflacionária apontada pelosprincipais indicadores econômicos ainda custa a ser sentidacomo um fato real pela maioria dos consumidores, porque, na hora depagar pela compra dos alimentos no comércio varejista, asensação é de que o dinheiro continua “curto”.Essesentimento existe porque “os alimentos que os brasileiros comem nodia-a-dia vinham subindo bastante de preço e, apesar deestarem caindo, permanecem caros”, observou a economista CornéliaNogueira Porto, do Departamento Intersindical de Estatística eEstudos Socioeconômicos (Dieese).Segundo Cornélia, o feijão subiu151% de janeiro de 2007 a julho deste ano, conforme constatou oDieese em levantamento sobre o Índice do Custo de Vida (ICV) .Isso ocorreu também com o arroz, cujos preços subiram38,7% nesse período; a farinha de trigo (52,6%); o óleode soja (51,7%) e o pão francês (26%). O ÍndiceNacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido peloInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que éo parâmetro da inflação oficial, atingiu 6,37%,no período de 12 meses até julho último.De acordo com a apuração da FundaçãoInstituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os preços doarroz caíram em média 1,8%, na comparaçãoentre a primeira e a segunda quadrisssemana de agosto. O feijãoteve queda mais acentuada (2,7%). Também foram negativas astaxas de variação do pão francês (-0,15%);da farinha de trigo (-2,87%); da batata (-3,2%) e das carnes bovinas(-0,27%).Com base nessas constatações,Cornélia Porto conclui que “seria bem pior” se nãotivesse ocorrido esse movimento de declínio da taxainflacionária. Ela acredita que os aumentos generalizados depreços das commodities (produtos cotados no mercadointernacional) atingiram “o boom especulativo” e, agora,gradualmente, estão retornando ao nível normal. Em nota técnica, o Dieese informa que asprincipais commodities agropecuárias (soja, milho,trigo, arroz, carne e algodão) tiveram expressivos avanços,com base em dados da Organização das NaçõesUnidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). O arroz,por exemplo, sofreu correções de 343% no períodode 2000 a 2008; a carne, de 192.3%; o trigo, de 331%; e a soja, de219,6% .A nota destaca que, além do aumento doconsumo mundial, especialmente em países como a China e aÍndia, houve os preços foram pressionados com a alta nacotação internacional do petróleo. Como reflexo,ficaram mais caros os insumos para plantio e o transporte dasmercadorias agrícolas. Outro fator de pressão estáassociado à estratégia dos exportadores de compensar aperda de rentabilidade causada pela queda do dólar por meiodos fundos financeiros. “Há, portanto, um componenteespeculativo que afeta os preços de diversos produtosagropecuários nos mercados futuros com efeitos imediatos nospreços à vista”, conclui a nota da equipe técnica doDieese.