Moradores divergem sobre mudança para conjuntos habitacionais na periferia

19/08/2008 - 19h31

Mylena Fiori
Enviada Especial
Pequim (China) - Emnome da modernização, o governo de Pequim está substituindo ostradicionais hutongs por grandes conjuntos habitacionais. Comindenizações muito baixas, milhares dos antigos moradores estão sendoobrigados a trocar o centro da cidade pela periferia. E a vidacomunitária dos hutongs pelo isolamento dos apartamentos.LiChunYong, 39 anos, vivia com mais 10 famílias em uma tradicional casacom pátio no meio no hutong AnDingMen, na região central da capital. Aárea foi desapropriada para dar lugar a uma praça – para melhorar aqualidade do ar e embelezar a cidade para os Jogos Olímpicos. Nosúltimos sete anos, a prefeitura de Pequim plantou 22 milhões de árvorese 46 milhões de metros quadrados de grama. Em2007, Li teve que mudar com o marido e o filho de 13 anos para TianTong Yuan Zong Yuan, no quinto anel Norte, a cerca de 20 quilômetros do centro(Pequim é dividida em anéis em torno do centro da cidade, sendo oquinto anel o mais distante de todos). Lá, conseguiu comprar umapartamento de pouco mais de 60 metros quadrados, com um quarto, emimóveis subsidiados pelo governo com preço de 2.650 yuans o metroquadrado. Ganhou 100 mil yuans (R$ 25 mil) como indenização, e ossogros deram 90 mil para inteirar o preço do imóvel.Emboratenha trocado um quartinho num lugar semelhante a um cortiço por um bomapartamento em um típico prédio de classe média brasileira, Li afirma que a distância do centro só vem causando transtornos. Alémde longe da escola do filho, dificulta a obtenção de um emprego. “Mesmoquando acham que sou boa para o trabalho, não querem pois moro longe eacham que pegarei engarrafamentos e chegarei sempre atrasada”, revela. Emum dia normal, sem trânsito, leva-se 50 minutos de carro do quinto anelaté o centro da cidade.Nemtodos os moradores dos antigos hutongs do centro de Pequim, porém,tiveram que mudar para tão longe. Depois de um período morando em casasalugadas – nem sempre pagas pelo governo – alguns negociaramapartamentos nos conjuntos habitacionais construídos no lugar de suasantigas casas. E pagaram um preço salgado para manter o mesmo endereço.Foio que aconteceu com diversos moradores da região de Jiao Daokou, aoNorte da Cidade Proibida, na região do segundo anel. Xu Fugui, 58anos, conta que todos receberam indenização de acordo com o tamanho daantiga casa. O valor: 1,7 mil yuans (R$ 425) o metro quadrado. Paracomprar um apartamento no mesmo lugar, desembolsaram 5 mil yuans (R$1,25 mil) por metro quadrado. Aqueles que não tinham poupançarecorreram a financiamentos. “Aquié bom. Tem água, chuveiros, nos hutongs era mais difícil”, diz Jang,que mora há cinco anos em um edifício onde antes ficava o Tu Er Hutong(o nome está lá, em uma homenagem póstuma, fixado na fachada doprédio). Yu Qin, 70 anos, concorda. “Aqui é mais conveniente”,resume. Mas lamenta a perda do convívio em comunidade - nos hutongs, aspessoas colocam poltronas e mesas em frentes às casas e sociabilizamnas calçadas. “O lado ruim daqui é que, de uma forma geral, quem moraem apartamento não conhece os vizinhos, não conversa com os outros”,constata.Alguns moradores dos novoscondomínios dizem que a mudança agradou. Os mais animados são os aposentados que dizem não precisar ir ao centro da cidade para nada.Liao Wenhu, 77 anos, foi morar em Tian Tong Yuan Zong Yuan, no quinto anel Norte, a cerca de 20 quilômetros da região central.  Obairro, nas proximidades da zona olímpica, passou a receberinvestimentos maciços do governo a partir de 2001, quando Pequim foiescolhida sede dos Jogos Olímpicos. Hoje, abriga dezenas de condomíniossubsidiados pelo governo e prédios de alto padrão.Antesde ir para lá, Liao morava em uma casinha de 20 metros quadrados emZhongguancun, no quarto anel, região que concentra universidades ecentros de alta tecnologia de grandes multinacionais - o Silicon Valleychinês. A morada foi demolida para dar lugar a mais um dosmodernos prédios do complexo. Com 10 mil yuans a mais do querecebeu como indenização, ele conseguiu comprar um apartamento novo de80 metros quadrados. “Aqui é mais limpo, mais conveniente, é melhor doque onde eu morava”, garante.Amesma sensação tem Li Ying, 60 anos, que há três anos mudou doNordeste da cidade, onde fica o Distrito das Artes, para o quinto anel.O predinho onde morava será destruído em uma nova etapa de urbanizaçãode Pequim, pós-Jogos Olímpicos. O filho ajudou a comprar o novoapartamento. “O ambiente é muito melhor, é mais bonito, maisorganizado”, diz.Leiamais matérias da enviada especial Mylena Fiori e acompanhetoda a cobertura olímpica multimídia da equipe daEmpresa Brasil de Comunicação no siteChina 2008.