Casa tradicional se transforma em local para hospedagem durante Olimpíadas

19/08/2008 - 19h10

Mylena Fiori
Enviada Especial
Pequim (China) - Uma tradicional casa com jardim no meio, num dos hutongs remanescentes de Pequim, podevaler US$ 10 milhões de yuans, equivalentes a R$ 2,5 milhões. Quemrevela a cifra é Wang Zhixi, dona de uma casa transformadaem Bed and Breafast (dormitório com direito a café da manhã), na valorizada região de Hou Hai. “Com a políticade abertura da economia chinesa, os investidores estrangeiros vieramcomprar imóveis aqui e encareceu”, opina.Olugar pertence à família há 100 anos, mas durante os 10 anos daRevolução Cultural de Mao Tsé-tung – de 1966 a 1976 – foi ocupado pordiversas famílias. Como muitos chineses, o pai de Wang foi enviado parareeducação no campo. Seu avô havia pertencido ao exército do Kuomitang– força nacionalista que disputou o poder com os comunistas em umaguerra civil entre 1946 a 1949.Ela,na época com 13 anos, foi para o Nordeste da China com a mãe. Com amorte de Mao e o fim da Revolução Cultural, voltou para morar com a avóque nunca quis abandonar a casa. “Ela acabou enlouquecendo por tudo oque passou e com tudo o que aconteceu aqui”, conta.Em2003, por idéia do filho Jing Jimmy – que hoje estuda no Canadá –, Wang eo marido, Jing Jichang, transformaram a casa em Bed and Breakfast.Quando o filho foi embora, Wang contratou uma professora particular deinglês e estudou durante dois anos para atender a turistas que chegamali de boca em boca, por recomendação (não há placas sinalizando olocal). Os três quartos estão ocupados.“A prefeitura ficou com medo que faltasse lugarpara hospedar todos os turistas que viriam para as Olimpíadas eselecionou algumas casas para hospedagem”, conta. Estiveram lá,recomendaram algumas adaptações – como a instalação de vasos nosbanheiros e a construção de mais dois chuveiros -  e o lar de Wang foi credenciado para receber turistas.Apesarde lucrar por viver em um hutong, ela não condena a destruição deoutros lugares como esse para a construção de prédios residenciais. “Oque foi demolido tinha condições muito precárias, as pessoas foramconstruindo sem regras e nem havia mais ruas”, diz. “A prefeitura dePequim tem um projeto para a cidade. No Leste e Oeste, onde os hutongsestão mais preservados, foram mantidos. No Norte e no Sul, onde houvecrescimento desordenado, foram demolidos”, relata. As zonas Leste e Oeste sempre foram as regiões nobres da cidade.