Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar de ter registrado um surpreendentecrescimento, a telefonia móvel no Brasil não pode ser considerada aprincipal responsável pelo processo de universalização, de acordo com oconselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), PedroJaime Ziller de Araújo. A universalização da telefonia era um o principal argumento para justificar a privatização do serviço,ocorrida há 10 anos. Para Pedro Jaime, a telefonia fixa, apesar de tercrescido em ritmo bem menor, tem contribuído mais para que todos tenhamacesso ao serviço telefônico.“Universalização não quer dizer só ter muitotelefone. Significa ter muito telefone em todo lugar. Sob esse aspectoa telefonia fixa universaliza muito mais que a móvel. Mesmo as classesmais desfavorecidas das grandes cidades têm acesso a um telefonepúblico. Ninguém hoje, em uma cidade grande, se desloca mais de 300metros para ter acesso a um telefone público. É a norma”, considerou oconselheiro.A telefonia fixa cresceu dentro da expectativa que ogoverno tinha em 1997. As previsões feitas no ano da privatização –quando existiam no Brasil 17 milhões de telefones fixos instalados – eramde que, em 2003, haveria 40 milhões de telefones fixos. “Isso foicumprido”, destacou Pedro Jaime.“Houve um crescimento muito grande da telefonia fixanas camadas mais populares. Pagar US$ 2 mil por um telefone é uma coisa,pagar R$ 40 por mês é outra. As cidades estão cobertas, mas isso nãosignifica que todos os cidadãos têm telefone em casa,muitos não têm condições de pagar R$ 40. Tem gente que ainda preferecomer a telefonar”, completou.O país tinha cerca de 4,5 milhões de celulares noano da privatização e em 2003, ultrapassando qualquer expectativa, onúmero de aparelhos móveis em funcionamento passou para 130 milhões.Hoje, segundo dados da Anatel, aproximadamente 14%das residências brasileiras só têm telefone móvel. “É um índice muitoalto”, comenta Pedro Jaime. Esse percentual localiza-se ,preferencialmente, nas grandes cidades e com telefone pré-pago. Noentanto, o conselheiro alega que existem municípios onde o serviço ainda não está disponível. “Não é possível se falar emuniversalização da telefonia por meio do pré-pago, o popular ‘celularpai-de-santo’ [telefone que só recebe ligações]. Existem ainda dois mil municípios no Brasil que aindanão têm telefonia móvel e só vão ter em 2010”.Para Pedro Ziller, o valor cobrado pelo serviço pré-pago, no Brasil, acaba financiando as tarifas do telefone de conta (pós-pago). “A tarifa pré-paga é muito alta. Trata-se de um HobinHood às avessas. Vê-se propaganda de pós-pago na qual se paga dentro darede, sete a oito centavos. Na mesma empresa, se paga R$ 1 pelatarifa pré-paga. É claro que a tarifa mais alta acaba dando condições àempresa de concorrer com o preço menor no telefone de conta”, explicou.Mas, por que a opção de pagar mais? De acordo com PedroJaime, o fenômeno do pré-pago é tipicamente brasileiro, pois o sistemacontou com um grande impulso: a existência da ligação a cobrar, quecomeçou no Brasil e hoje existe em poucos países. “A lógica não é pagarmenos e sim, não usar telefone”.“Essa característica é só brasileira, porque o Brasiltem uma característica que os outros países não têm. Nós temos o ‘acobrar’. Um dos grandes responsáveis pelo crescimento brasileiro dotelefone pré-pago é o fato de termos essa opção. Logo após asprivatizações já se implantaram as ligações a cobrar na telefoniamóvel. Isso ocorreu em 1998 e 1999. Virou mesmo o ‘pai-de-santo’, sórecebe”, destacou.