Pecuarista diz que fazendeiro não compra gado pela internet ao apontar fracasso de leilão

04/08/2008 - 17h57

Lourival Macêdo.
Repórter da Rádio Nacional
São Félix do Xingu (PA) - O pecuarista NicácioCabral de Menezes, de Água Azul do Norte, no Pará, temuma explicação para o fracasso dos três leilõespara a venda do gado apreendido pelo Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) durante aOperação Boi Pirata, realizada em junho, na EstaçãoEcológica da Terra do Meio, no sudeste do Pará. “Fazendeiros nãocompram gado pela internet,porque nada substituiu um olhar mais apurado e minucioso”. Para o pecuarista, se ogado do Ibama estivesse no recinto do leilão seria mais fácilvender. “Eles nãoconseguem vender na reserva justamente por falta de estrada, falta decomunicação”, disse.Segundo ainda opecuarista, “se o gado estiver magro é preciso recuperá-loantes de iniciar uma longa viagem. Se soltar o gado na estrada noestado em que se encontra, poderá morrer mais da metade porcausa da seca. Então é preciso deixar o gado pelo menos90 dias em boas pastagens. E a retirada do rebanho terá deacontecer até dezembro, porque depois os rios enchem e ficaquase impossível a sua travessia no Rio Bala - saída dareserva -, e em outros rios no percurso de 300 quilômetros atéchagar em São Félix do Xingu”.A internet naregião é precária, e segundo usuários dainternet, para enviar uma mensagem a demora é de atéduas horas, quando consegue. “Apenas os jovens eadolescentes têm paciência e tempo para ficar na frentede um computador tentando usar ainternet”, desabafa Beatriz Rodrigues Silva, que estava emuma lan house (estabelecimento comercial onde as pessoas pagampara utilizar um computador com acesso à internet) emSão Félix do Xingu, tentando enviar mensagem para osfilhos em Goiânia. O vice-presidente doSindicato dos Produtores Rurais de São Félix do Xingu,José Wilson Alves Rodrigues, confirma que não tem comoos pecuaristas da região participarem de leilãovirtual. “Quem tem acesso à internet aqui ébanco, que possui torre própria”, disse Rodrigues,acrescentando que na cidade tem apenas algumas pequenas torres comacesso para cinco internautas, que são disputadas por 500pessoas. Mas não éapenas a precariedade para o uso da internet que explica ofracasso do leilão virtual das 3.146 rezes. O preço eas péssimas condições da estrada tambémdificultam a venda do gado aprendido, segundo pecuaristas da região.Um leilão degado realizado neste final de semana no Tartesal - recinto de leilõesde animais -, do Sindicato dos Produtores Rurais de São Félixdo Xingu, mostrou que houve uma queda nos negócios de compra evenda de gado. Das 750 cabeças ofertadas em 44 lotes, apenas280 foram vendidas. Os dois terços restantes - 470 rezes - nãotiveram compradores, apesar de todo o esforço do leiloeiroAntônio Magno para estimular os compradores, ao enaltecer aqualidade superior de alguns lotes do rebanho. O preço médiodos bezerros desmamados vendidos no leilão foi de R$ 450,enquanto o preço das novilhas foi de R$ 630 e o preçomédio de uma vaca ficou em R$ 731. Já o boi magro paraengorda foi vendido por R$ 790. Para Élder Diasde Mendonça, da Xingu Leilões, a queda no volume denegócios foi provocada pela baixa no preço do boigordo, que caiu de R$ 80 a arroba em junho para R$ 68 à vistaou R$ 70 com prazo de pagamento de 30 dias. A queda no preçoé apontada como outra dificuldade para a venda do gadoapreendido pelo Ibama. Mesmo com a redução do preçomínimo de três milhões de reais para R$ 1,4milhão para o leilão virtual de todo o rebanho, umpreço médio que está um pouco abaixo de R$ 500por cabeça de gado, a distância e a precariedade daestrada não anima os compradores.Apesar de o preçomínimo do Ibama estar abaixo do que é praticado nomercado, o vice-presidente do Sindicato dos Produtores Rurais garanteque os pecuaristas não estão boicotando o leilão.“Não háboicote, os pecuaristas da região são habituados acomprar gabo bovino indo às fazendas ou aos leilões emrecintos próximos às cidades e do local para onde vai orebanho. Para vender essa quantidade de gado - 3.146 cabeças-, é preciso dividir o rebanho em vários lotes, deacordo com a idade, sexo, tamanho e padrão genético”,explica Rodrigues. Ele garante ainda quenenhum pecuarista tem pasto suficiente para colocar todo o gado àvenda na fazenda. “Separando por lotes, cada um compra o tipo quedeseja e a quantidade que necessita”, sugere o dirigente dosindicato dos produtores ruais.