Conare acusa governo colombiano de usar padre das Farc em época de eleição

04/08/2008 - 20h10

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O secretário-executivo do Ministério da Justiça e presidente do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), Luiz Paulo Barreto, afirmou hoje (4) que estranha a postura do governo colombiano de somente trazer à tona o assunto “padre Oliverio Medina” em períodos próximos a eleições na Colômbia. Acusado de participar de um ataque a uma base militar colombiana em 1991, o ex-padre Francisco Antonio Cadena Colazzos, mais conhecido como padre Oliverio Medina, que se intitulava porta-voz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Brasil, teve sua extradição, pedida pelo governo de seu país de origem, negada em 2006, mesmo ano em que lhe foi concedido o refúgio no Brasil.“Embora ele estivesse no Brasil [de forma pública] desde 2000 [quando foi preso pela Polícia Federal por causa de uma carteira de identidade vencida], livremente, com conhecimento do governo da Colômbia, conhecimento da Embaixada da Colômbia, conhecimento de todo mundo, o governo da Colômbia só fez o pedido de extradição em 2005, com base num crime de 1991”, afirmou Barreto.O secretário ressaltou que, naquele ano, a Colômbia estava em processo eleitoral para eleição do novo presidente. A situação é parecida com agora, quando o presidente Álvaro Uribe tenta conseguir o direito a disputar um terceiro mandato e o assunto volta a ser tema da pauta regional.“Eu não posso me colocar numa posição formal de que é ou não é [uma situação de expresso interesse político no tratamento do tema], mas isso causa estranheza ao Conare sempre, o fato de esse assunto só voltar à tona numa roupagem eleitoral; porque ele não veio à tona antes de 2005? Porque depois do refúgio, ninguém falou mais nada?”, questionou o secretário.Barreto destacou que um dos motivos que levaram à concessão do refúgio foi o fato de não se ter visto prova da participação de Medina no ataque de 1991, até porque, segundo o secretário, no histórico de atuação do ex-padre nas Farc, não existia histórico de atuação armada, “ele não era um braço armado, era um braço político, diplomático, um porta-voz”.Além disso, Barreto ressaltou que o governo colombiano pode procurar o Ministério da Justiça a qualquer tempo para pedir revisão do processo de refúgio. De acordo com Luiz Paulo Barreto, isso nunca foi feito. “Terminadas as eleições na Colômbia, o assunto desapareceu”, concluiu o presidente do Conare.