Número de professores especializados precisa ser 20 vezes maior para cumprir lei

27/07/2008 - 13h14

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Congresso Nacional aprovou, no primeiro semestre, duas leis que incluem novasdisciplinas nos currículos da educação básica: filosofia, sociologia e música. Especialistas emeducação comemoraram a inclusão, que garante acrianças e adolescentes uma formação maisintegral. Mas a novidade também coloca o dedo em um antigaferida da educação brasileira: a falta de professorespara disciplinas específicas.De acordo com umestudo da Coordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Ensino Superior (Capes), órgão que agoraresponde pela formação de docentes para a educaçãobásica, o Brasil tem, hoje, 31.118 profissionais atuando comoprofessores de filosofia, sendo que, desse total, apenas 23% têmformação específica. Na sociologia, são20.339 professores atuantes, sendo 2.499 licenciados (12%). Estimativa da Capesaponta que serão necessários 107.680 docentes, em cadauma das disciplinas, para atender aos 24.131 estabelecimentos deensino médio. A oferta será obrigatória nostrês anos desse nível de ensino. Segundo o diretor deeducação básica da Capes, professor DilvoRistoff, para atender à nova demanda seria necessárioaumentar em 20 vezes o número de professores formados por ano,que hoje é de 2.884 em filosofia e 3.018 em sociologia.“Como nãohouve obrigatoriedade do oferecimento dessas disciplinas nos últimosanos, isso também desestimulou a formação deprofessores nessas áreas nas universidades”, disse Ristoff,em entrevista à Agência Brasil. A demanda foi calculadaconsiderando uma carga horária de 20 horas semanais para cadaprofessor, em turmas de 30 alunos. “Se a gente levar em conta que50% dos que se formam tendem a exercer outras profissões, agente chega ao dramático número de 40 vezes maisgraduados por ano”, estimou.  Ainda não háum estudo específico sobre o impacto da obrigatoriedade doensino da música na educação básica. Osdados existentes são sobre os professores de educaçãoartística, área em que há profissionaisformados em número suficiente para atender a demanda. Ainda assim, a maioria nãoatua no magistério. “Certamente haverá um impacto, éuma demanda de outra natureza, não só de docentes, masde ambientes específicos, professores com teoria, professorescom prática, instrumentos musicais e a própria cargahorária”, avaliou Ristoff.Na sua opinião, o primeiro estímulo para atrair os professores para a sala deaula foi dado este mês, com a aprovação dopiso nacional do magistério. O Congresso aprovou o projeto no último dia 2. Inicialmente, Ristoff prevêque será necessário colocar em sala de aula docentesformados em áreas correlatas à filosofia e àsociologia para cobrir o déficit. A prática jáacontece nas disciplinas de química e física, em que oestoque de professores formados é insuficiente para atender ademanda.“Agora teremos queincluir a filosofia e a sociologia no nosso plano emergencial.Estamos, inclusive, revendo os planos orçamentários para2009. Vamos ter que chamar todas aquelas pessoas que têm umaformação correlata como história, ciênciapolítica e a sociologia pura, sem a licenciatura, para atendera lei”, disse. Para atrair ao magistério osprofissionais licenciados em filosofia e sociologia que estãoafastados das salas de aula, a Capes estuda a possibilidade de concederbolsas. Segundo Ristoff, aCapes deve pedir ao Conselho Nacional de Educação (CNE)que elabore uma regra de transição para atender ànova lei, com uma possível reduçãoda carga horária nos primeiros anos. De acordo com o educador, éessencial uma revisão também do currículo doensino médio que ele classifica como “inchado”.“Normalmente são 12 disciplinas no ensino médio, oque dá, em média, uma carga horária semanal de 48horas”, calculou. O ideal, segundo ele, seria a adoçãodo período integral nas escolas.