Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A crise mundial dealimentos deve se acentuar no prazo de três anos. No entanto, oBrasil pode se beneficiar desse fato por ser o único paísdo mundo com todas as condições (espaço,tecnologia, água, clima e estrutura de produçãode agronegócio) para aumentar a produção,segundo estudo feito pela Organização das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Aafirmação foi feita pelo ministro da Agricultura,Reinhold Stephanes, em entrevista à Agência Brasil.O ministro disse que oBrasil chegará ao fim da crise em posição dedestaque no cenário mundial, mas precisa resolver,internamente, questões de legislação ambiental.Stephanes é a favor de que haja flexibilizaçãoem relação às áreas que já foramdegradadas. "Eu sou tão ambientalista que acho que nãodevemos derrubar uma árvore para aumentar a nossa produção,mas eu também acho que devemos utilizar o que já estáaí." Entretanto, ele estima que se as leis quecondicionam o plantio continuarem avançando nos mesmospatamares de hoje, restarão poucas áreas para cultivo:“teremos congelado de 80% a 85% do território”.O aumento daprodutividade é o primeiro fator para alcançar umaumento significativo na produção de alimentos, segundoo ministro. Por isso, a preocupação do governo eminvestir em pesquisas, com a liberação de R$ 1 bilhãopara a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),e de uma linha de crédito de mais R$ 1 bilhão paraagropecuaristas interessados em recuperar áreas degradadas. AgênciaBrasil: Alguns especialistas dizem que a crise mundial dealimentos vai durar de cinco a dez anos. Outros chegam a falar em 20anos. Como o Brasil pode se sobressair nesse cenário decrise?Reinhold Stephanes: O que acabou criando todo essecenário foi o crescimento da economia mundial. Não seconhece na história um período em que a economiamundial tenha crescido de forma global, a taxas tão elevadas,por tempo tão longo. Isso, evidentemente, aumentou renda eaumentou demandas por matérias-primas, por energia e poralimentos. Há um desequilíbrio entre a demanda e aoferta e os preços aumentaram bem. De qualquer forma, que issodure cinco anos, que isso dure dez anos - na minha visão, daquidois ou três [anos] esse fenômeno vai se acentuar - éclaro que isto é uma oportunidade boa para o Brasil. Existe umestudo da FAO [Organização das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação] feito emtodos os países que têm condições de aumentar aprodução, que verifica cinco condiçõesimportantes - espaço, tecnologia, água, clima eestrutura de produção de agronegócio -, e oúnico país que satisfaz as cinco condiçõesé o Brasil.ABr: O Brasilestá preparado para assumir a frente desse processo de aumentode produção?Stephanes: São raros ospaíses que conseguem crescer em média 5% ao ano emagricultura, em períodos longos, como o Brasil vem fazendo nosúltimos 20 anos. Dentro desse padrão de crescimento elemantém também um ganho de produtividade extremamenteelevado. Dos 5% de crescimento, 3,5% são ganhos deprodutividade. Por outro lado, ele vem se firmando, cada vez mais,como país exportador de produtos agrícolas, porque hámuito tempo é o país que mais cresce em excedentes deexportação. Há uma situação fora e umasituação aqui perfeita, com três dificuldades quenós temos ainda: de infra-estrutura interna – o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] prevêjá algumas obras para isso –, uma dificuldade cambial, e umadificuldade da nossa dependência e vulnerabilidade de adubos,que são três questões que nós temos quetratar. Eu diria até que há uma quarta, que é aquestão do meio ambiente.ABr: Comoencontrar um equilíbrio entre produção agrícolae preservação do meio ambiente?Stephanes:Não quero criar um impacto maior, mas é aquelabrincadeira. Daqui a pouco nós vamos extinguir a nossaprodução agrícola, porque se nós formosvendo os avanços que houve nas leis que vãocondicionando o plantio, chega-se ao ponto tal que hoje nóstemos 70% do território brasileiro congelado com áreasde preservação ambiental. E se continuar a mesma curvaque vem vindo por mais 10 anos, daqui a pouco teremos congelados de80% a 85% do território. Eusou tão ambientalista que acho que não devemos derrubaruma árvore para aumentar a nossa produção, maseu também acho que devemos utilizar o que já estáaí. Quer dizer, por um lado não derruba maisnada e, por outro lado, se flexibiliza o que já estáantropizado, o que já está derrubado. Eu não vouchegar em Minas Gerais e dizer: olha gente, vocês estãoplantando há 100 anos nas encostas, parem de plantar. Eu nãovou chegar para um produtor em Minas, ou no Paraná, queutilizou 100% da área e dizer olha, agora você vai terque reflorestar. O dado concreto é que quando se analisa o quehá de restrição e o que há de plantio,significa que já tem gente irregular, porque a parte plantadajá ultrapassa os 30%. Eu não quero levantar essadiscussão, mas só vou mostrar isso aqui para você.(O ministro mostra o mapa de uma fazenda do estado de Mato Grosso).Eu acho que esse proprietário aqui mereceria elogios. Olhaaqui como ele manteve a floresta, a mata ciliar em volta do rio. Masvocê sabe o que aconteceu com ele quando foi regularizar apropriedade? Levou uma multa de R$ 1 milhão. Faltaracionalidade. Ele não é um criminoso. É umprodutor, e que, aliás, tem a propriedade bem estruturada, queaté merecia elogios. Mas quem foi olhar não considerounada disso. Porque no passado, na Amazônia, era dito aoproprietário para manter 50% da propriedade sem derrubar. Mas,naquela época, não existiam essas reservas permanentestodas que hoje tem aqui. De repente, começou todo ano acriar uma, duas, três reservas permanentes, com milhõesde hectares.ABr: Comoresolver essa questão ambiental?Stephanes:Precisaria reconceituar tudo. Precisaria bom senso, sentar numamesa, com racionalidade, fazer o que o resto do mundo faz. Nãofaz o que a gente faz. É que nunca ninguém haviamontado esses mapas. (Ministro mostra mapa do Brasil identificandotodas as reservas ambientais). Ninguém tinha idéia deque nós estávamos nessa situação. Aquiestão os cálculos: se trabalharmos corretamente naAmazônia, só está livre [para agricultura] 6,96%da área. No Brasil todo, 33%.ABr: E comoenfrentar essas dificuldades e aumentar a produção?Stephanes:O que se procura, em primeiro lugar, é aumento deprodutividade e utilização mais racional das áreaschamadas degradadas ou de baixa produtividade, que são muitas,principalmente pastagens. Ou seja, diminuir área de pastagens,passar a produzir grãos e melhorar a pastagem do remanescentepara produzir mais boi por hectare do que se produz hoje. O PAC daEmbrapa faz parte disso. Até porque cria três unidadespermanentes. Uma em Mato Grosso, maior produtor de grãos e decarnes do Brasil, que não tem uma unidade da Embrapa, uma emTocantins e outra no Maranhão, que também nãotêm.