Secretário manda investigar incêndio em casas de quilombolas no Paraná

21/07/2008 - 16h11

Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - O secretário de SegurançaPública do Paraná, Luiz FernandoDelazari, determinou hoje (21) a apuração rigorosa do incêndio de três casas de uma comundiade quilombola, provocado por um grupo de homens encapuzados. O incêndio aconteceu na últimasexta-feira (18), no município de Doutor Ulysses, no Vale doRibeira, a 170 quilômetros de Curitiba, o que deixou tensoo clima no município. Vinte pessoas, que estavam nolocal, refugiaram-se dentro da mata, onde ficaram escondidas durantemais de cinco horas.Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, foi aberta sindicância e o secretário enviou um capitão dapolícia para a cidade de Doutor Ulysses, para apurar o caso. Delazari adiantou que, se forcomprovada a denúncia de participação de militares ou qualquer agressão por parte depoliciais, o que considerou “inaceitável”, os responsáveisserão punidos.Segundoo advogado da comunidade, Pedro Luiz Mariozi, policiais militaresestiveram no local e foram embora sem colher nenhum depoimento ouefetuar qualquer prisão. Ele disse que a área onde as famílias quilombolas vivempossui aproximadamente 500 alqueires, mas o processo de titularidade,que tramita no Ministério do Desenvolvimento Agrário,considera uma área ainda maior, de 4 mil alqueires, como pertencente à comunidade quilobola.

Essapropriedade está sendo disputada pela madeireira TempoFlorestal S/A e pelas irmãs Germene e Marjorie Mallmann, queingressaram com ação de reintegração deposse contra os membros da comunidade quilombola. “Os quilombolasestão lá desde 1854, inclusive é onde estáo cemitério deles”, disse o advogado dos quilombolas. Os madeireiros brigam pela retirada e exploração de árvores de pinus existentes nolocal.

Odeputado federal Dr.Rosinha (PT-PR), integrante da Frente Parlamentar da Terra, denunciou que “a PM do Paraná mostra-seconivente com a violência e com a contratação demilícias armadas, por fazendeiros e madeireiros, que disputam aposse de terra com membros da comunidade quilombola da regiãode Varzeão, em Doutor Ulysses”.

O advofadoMariozi disse que, na última terça-feira (15), policiaismilitares já haviam acompanhado a notificaçãode um mandado de reintegração de posse do local, acompanhados por três veículos com segurançasparticulares, ocasião em que efetuaram disparos de pistola eameaçaram os moradores. Segundo ele, projéteis e trêscápsulas deflagradas foram encaminhadas à Secretaria deSegurança, para análise

O advogado Mariozi está hoje em Curitiba, acompanhado derepresentantes da comunidade, protocolando medidas judiciais e denunciando a grupos de defesa dos direitos humanos a situaçãona região. “Já entramos com representaçãona Secretaria de Segurança Pública por abuso deautoridades policialis e protocolamos junto ao Tribunal de Justiçauma ação para tentarmos reverter a reintegraçãode posse da área”, disse o advogado da comunidade quilombola.

Oquilombola Laélcio de Souza informou, por intermédio do advogado, que ninguém ficouferido porque, quando perceberam o fogo, ele eoutros 19 moradores da região fugiram para o mato. Ele disse que seu irmãotambém viu quando quatro pessoas encapuzadas colocavam fogonas casas.