Investimentos em tecnologia podem frear avanço da cana sobre Amazônia, dizem especialistas

14/07/2008 - 21h00

Luana Lourenço
Enviada especial
Campinas (SP) - A sustentabilidade dobiocombustível brasileiro, questionada por críticosinternacionais do etanol de cana-de-açúcar, depende daescala a ser adotada pela política de expansão daprodução e de investimentos em tecnologia para alcançaraumento da produtividade sem expandir a área cultivada. Aavaliação foi apresentada hoje (14) por pesquisadoresem debate durante a 60ª Reunião Anual da SociedadeBrasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Na avaliaçãodo pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia(Ipam), Paulo Barreto, é preciso “menos propaganda e maisciência” por parte do governo brasileiro na definiçãode estratégias sustentáveis de produçãode cana-de-açúcar para fins energéticos. “O governo argumentaque há poucas áreas de plantio de cana na Amazônia,isso realmente é um fato, mas é preciso considerar osefeitos indiretos, como o avanço da pecuária sobre afloresta por causa da substituição de pastagens porlavouras de cana em outras regiões do país”, apontou.Barreto acrescentouque, se o aumento da produção de etanol for feito àscustas de novos desmatamentos, o ganho ambiental pela substituiçãode combustíveis fósseis será reduzido. “Estudosmostram que seriam necessários 45 anos de cultivo decana-de-açúcar para neutralizar as emissõescausadas por esses desmatamentos. Isso destrói a vantagemcomparativa do etanol e significa que, em curto prazo, gera aumento deemissões do efeito estufa”, argumentou. Já o pesquisadore professor da Universidade de São Paulo (USP), MarcosBuckeridge, alertou que “a Amazônia está seriamenteameaçada sim” se o ritmo do avanço de “invasão”da floresta não for compatível com o avanço naspesquisas para aumento da produtividade dos biocombustíveis,entre eles o etanol de cana. Segundo Buckeridge,o Brasil é considerado atualmente um exemplo desustentabilidade do ponto de vista energético, vistocomo a “locomotiva energética do planeta”, mas precisaconciliar preservação e desenvolvimento tecnológicopara manter essa posição. “Se quisermos nostornar a potência ambiental que podemos ser no futuro, teremosque achar caminhos para produzir bioenergia e, ao mesmo tempo,preservar a biodiversidade”, defendeu. A sustentabilidade dosbiocombustíveis é um dos temas centrais da reuniãoda SBPC, que este ano discute Energia, Ambiente e Tecnologia.